Entrevista: Capitão Fausto

À conversa com os Capitão Fausto. 

Os  Capitão Fausto, já são uma das grandes referências no panorama musical português tanto que até  criaram um hambúrguer no Honorato, e depois do êxito do álbum de estreia "Gazela", vieram-se afirmar com o segundo registo "Pesar O Sol" que conta com músicas mais longas e psicadélicas.
Conversámos com Manuel Palha (guitarrista) e Salvador Seabra (baterista) sobre festivais, o segundo disco, a Teresa e ainda sobre como é viver a burger life. Isto e muito mais para ler na entrevista aqui em baixo.



Watch and Listen: Vocês já tocaram em praticamente todos os festivais em Portugal, pelo menos os mais importantes, e qual foi o vosso favorito até agora?
Salvador: É difícil dizer. Acho que todos os festivais grandes em que nós tocámos, gostámos de todos de maneiras diferentes…
Manuel: Sim, foram todos bastante diferentes cada um…
Salvador: O primeiro grande que nós tocámos foi o Super Bock e foi especial por causa disso. Foi o primeiro palco grande em que nós tocámos. Depois tivemos o Paredes de Coura que também foi muito bom. Aquele palco é espetacular. Ver as pessoas todas assim é incrível.
Manuel: O Alive foi muito giro também.
Salvador: O Alive também foi muito bom, foi mais à noite. Também foi bastante diferente dos outros todos, mas acho que todos gostámos de tocar em todo o lado. Não há assim nenhum preferido. É sempre diferente e sempre bom.
W&L: E há algum que ainda não tocaram, mas que têm o desejo de ir?
Salvador: Claro! Não tocámos no Primavera (dizem os dois ao mesmo tempo), por exemplo. Gostávamos de tocar…
Manuel: O primavera é assim o mais… o Avante!
Salvador: E gostávamos de voltar a tocar nos outros todos.
Manuel: Exato!

W&L: Numa das primeiras entrevistas que vi vossas, descobri que vocês acampam em festivais, por isso, qual foi a vossa experiência favorita a acampar até agora?
Salvador: Humm… não sei. Eu gostei muito deste ano do Paredes.
Manuel: O Paredes de Coura este ano foi muito giro. Quando tocámos no Super Bock também foi giro. Quando tocámos lá e ficámos lá.
Salvador: Isso também foi engraçado. Nós já acampámos muitas vezes e gostamos sempre. Não sei qual é que foi o preferido. Este ano gostei especialmente deste ano. É sempre diferente. Vamos todos os anos com pessoas diferentes. É giro, nós gostamos muito. Beber uns copos, é isso.


W&L: Ouvimos dizer que vocês jogam futebol.
Manuel: Muito bem!
W&L: Tornou-se alguma espécie de hábito darem uns toques na bola antes de um concerto?
Salvador: Quando nos lembramos de levar a bola sim.
W&L: Há dias em que se esquecem?
Manuel: Há dias em que esquecemos. Agora neste último esquecemos, por acaso e fez muita mossa. Não sabíamos o que é que havíamos de fazer.
Salvador: Tocámos muito pior por causa disso. Quando nós não aquecemos não corre bem
W&L: E fazem o quê se não tiverem a bola? Não fazem nada?
Salvador: Fazemos umas flexões, lutas greco-romanas.
Manuel: Fazemos o pino para ver quem aguenta mais tempo a fazer o pino.

W&L: Vocês têm muita energia em palco. Sentem que é a vossa música que influencia isso ou é também porque vocês ajudam à festa?
Manuel: Nós também ajudamos um bocadinho, não é? Somos nós que estamos lá a tocar, mas uma coisa que influencia imenso também é o público. Um público enérgico para nós dá-nos logo outra coisa, logo outra energia e é uma mistura disso. Umas músicas são enérgicas, nós às vezes estamos mais enérgicos do que nos outros dias e as pessoas às vezes estão mais enérgicas do que nos outros dias.
Salvador: Nós gostamos todos de tocar e somos todos muito amigos e acho que isso se nota. A energia é um bocado daí, de nós estarmos a gostar minimamente de estar a tocar.
W&L: Mas se o público não cooperar vocês tentam puxar por eles, não?
Manuel: Sim, às vezes quando não funciona nós também não nos chateamos porque ficamos a tocar para nós (risos). Não, ficamos a tocar para toda a gente que está lá. Mas estamos sempre divertidos a tocar e tocar para nós é sempre giro seja qual foi o cenário.
W&L: Sim, mas deve haver sempre alguém que gosta…
Manuel: Sim, há sempre mesmo que o público seja um bocadinho nada mais parado há sempre gente que nós vemos que está a cantar as músicas, a gostar e isso.


W&L: Viemos a descobrir a história por detrás da música "Célebre Batalha de Formariz". Vocês estiveram lá há pouco tempo, certo? Como é que foi a experiência de voltar lá?
Manuel: Sim. Foi muito giro. encontrámos lá várias pessoas. Fomos muito bem recebidos. O passado já é coisa… o passado é coisa do passado. O passado já está atrás e é uma coisa distante e está gravado naquela música olha, pronto.
Salvador: No dia a seguir a Paredes de Coura demos lá um concerto, em Formariz, para muita pouca gente. Para amigos nossos e habitantes de Formariz mesmo e foi muito giro. Tocámos como Modernos e Bispo que são as outras bandas que nós temos e depois no fim tocámos a "Célebre Batalha de Formariz" para avivar...
Manuel: Para comata. 

W&L: Os vossos dois álbuns têm sons diferentes. Quando lançaram o "Pesar o Sol" estavam um bocado reticentes quanto à opinião do público por ter um som mesmo diferente do "Gazela"?
Manuel: Não. Nós não estávamos reticentes porque a nós soou-nos muito bem, era exatamente aquilo que nós queríamos fazer e a partir do momento em que nós gostávamos foi igualzinho ao "Gazela". Nós também quando fizemos o "Gazela" gostávamos imenso do "Gazela" e as pessoas por sorte gostaram também e aqui esperávamos ter a mesma sorte. Nunca ficámos à espera das pessoas não gostarem. Normalmente fazemos a música exatamente como nós gostamos e como nós quereríamos ouvir e esperemos que haja pessoas com o gosto parecido com o nosso, pelo menos.



W&L: Com o novo álbum vocês disseram que não sentiram pressão nenhuma durante a gravação, e sentem mais agora que vão para o terceiro ou nem por isso?
Salvador: Não, eu acho que as coisas são diferentes, por exemplo, no "Gazela" havia zero pressão porque nós nem sabíamos muito bem o que estávamos a fazer. Tocámos as músicas que nós já tínhamos e foi o que foi. No segundo disco também não houve muita pressão mas…
Manuel: Não houve pressão nenhuma, houve mais preparação.
Salvador: E no terceiro disco, quer dizer, nós não nos sentimos pressionados até porque nós não fazemos, ou seja, claro que a nós nos convém ter pessoas a seguir a nossa música, mas também não estamos preocupados em fazer música para outras pessoas. Quando nós estamos a fazer músicas novas fazemos as músicas para nós…
Manuel: Porque nós gostamos.
Salvador: E pronto, até agora tem corrido bem. Eu acho que se nos mantivermos fiéis a esta coisa… acho que o truque é mesmo não preocupar demasiado porque se uma pessoa depois se começa a preocupar demasiado depois…
Manuel: Influencia a própria música.
Salvador: É isso mesmo.

W&L: Neste último álbum, vocês têm músicas como "Flores do Mal", "Lameira" e "Tui" só para dar alguns exemplos que à partida começam de uma forma digamos normal e acabam por nos levar numa espécie de «viagem espacial». Era essa a intenção?
Manuel: Eu acho que sim. A intenção não era "vamos pôr aqui uma grande" mas era, com o som que nós estávamos a produzir quando tocávamos e quando estávamos a fazer as músicas havia momentos em que nós sentíamos que aquilo tinha de ir para ali. Não sei, foram coisas um bocado naturais, não foi a pensar "'bora fazer uma música de oito minutos". Começámos a tocar e a juntar tudo e no fim quando chegámos à gravação "isto tem oito minutos". Não foi uma coisa assim pré-concebida, aconteceu. E ainda bem que depois se cria uma espécie de uma narrativa dentro da música que se leva. Eu gosto de ouvir isso e nós gostamos todos de ouvir isso em outros discos.

W&L: Vocês decidiram ser como o Fernando Pessoa e desconstruíram-se em mais heterónimos e por isso formaram os Bispo e os Modernos. Formaram essas bandas porque queriam um som que não se enquadrava nos Capitão Fausto?
Salvador: Acho que foi uma coisa também muito despreocupada. Acho que isto começou... eu e o Tomás tivemos a ideia de fazermos os Modernos a certa altura e depois os primeiros ensaios fui só eu e o Tomás, depois mais tarde o Manuel também se juntou para o baixo e depois disto o Manuel, o Francisco e o Domingos também decidiram fazer uma outra banda que são os Bispo e a nossa ideia, a nossa intenção é continuar, quer dizer, nós era um bocado... de facto havia malhas de que nós gostamos de tocar e que não se encaixam no expectro dos Capitão Fausto e então decidimos fazer estas outras bandas e é uma coisa um bocado para nos divertirmos mais, não é?
Manuel: Sim, para experimentar coisas.
Salvador: E a ideia é continuarmos a fazer bandas e vamos fazer mais bandas.
Manuel: Com outras combinações.
Salvador: E fazer outras coisas, e uma coisa que ainda não falámos muito, mas é uma coisa que nós estamos a planear fazer. Estamos a planear fazer uma editora chamada Cuca Monga e depois onde vamos lançar estas bandas, vai ser basicamente uma…
Manuel: Vai ser uma editora egoísta para lançar as nossas próprias coisas mas eventualmente, um dia pode crescer para outros lados.
Salvador: Eventualmente trazer mais bandas e mais pessoas para a nossa editora, e pronto é um bocado uma desculpa também para fazermos outras coisas.
W&L: Para tocarem mais
Manuel: Exatamente
W&L: E não se cansam?
Manuel: Não, não
W&L: Ainda bem!

W&L: Já se encontram nas gravações do próximo disco?
Manuel: Nas gravações ainda não.
Salvador: Estamos a começar a pensar em fazer as músicas. 
Manuel: É que não temos tido muito tempo porque este verão estivemos sempre a tocar e nós precisamos assim de algum tempo para nos juntarmos só com a cabeça naquilo. Mas já há muitas coisinhas e muitas ideias que foram surgindo ao longo do tempo e brevemente haverá notícias. 

W&L: Vocês isolam-se sempre para gravarem os álbuns. Sentem que isso ajuda na produção?
Manuel: Ajuda, ajuda imenso! Ajuda porque quando estávamos em Lisboa na sala de ensaios torna tudo muito mais livre, ou seja, fica tudo mais "ah, hoje não posso tocar, só chego às duas não sei quê" depois ficamos lá a tocar, depois às oito temos de parar, ou seja, se nós estivermos completamente só focados nisso e noutro sítio onde só estamos nós e mais auns amigos ou assim, sabemos que é acordar, temos tudo montado, vamos tocar. Tocar o dia todo. 
Salvador: Há menos distrações
Manuel: Menos distrações e nós ficamos muito mais…
W&L: Focados.
Manuel: Exatamente.


W&L: Chegámos à conclusão que vocês deixaram de tocar a Teresa. Eu queria saber se há alguma razão especial.
Manuel: Não deixámos!
Salvador: Na maior parte dos concertos não tocamos.
Manuel: Mas temos tocado em muitos deles.
Salvador: Nos últimos dois concertos tocámos.
Manuel: Mas tem a ver com uma questão de que nós tentamos fazer os concertos como uma coisa contínua. Uma espécie de princípio, meio e fim mais ou menos. E com as músicas que nós queremos tocar e com as que mais gostamos de tocar, são todas praticamente, mas com o concerto que nós temos estado a fazer com certas passagens a "Teresa" às vezes fica ali um bocadinho sozinha e tem sido um bocado mais por causa disso a escolha assim como saem outras, têm saído muitas outras a "Teresa" se calhar chama mais à atenção por ter sido o single mas quando nós vemos que existe sítio para a pôr e a para a tocar nós tocamos. Agora nestes últimos três concertos tocámos.
W&L: Mas por acaso têm reparado que as pessoas têm sentido falta da "Teresa"?
Manuel: Eu não tenho reparado. As pessoas às vezes falam "eh a Teresa não sei quê".
Salvador: Eu acho que não é a "Teresa" que faz o nosso concerto ser melhor.
Manuel: Exatamente!
Salvador: Honestamente eu acho que não faz falta no concerto. Se as pessoas gostam do nosso concerto não é porque tocámos a "Teresa é por outras coisas,

W&L: Têm algum momento favorito que tiveram com fãs?
Salvador: Não. Nós temos muitas histórias mas a maior parte guardamos para nós (risos.
W&L: Então não podem contar! Agora ficámos curiosas.
Salvador: Não, estou a brincar. Nós tivemos algumas histórias engraçadas. Tivemos a fazer umas tournées assim de muitos dias seguidos por Portugal inteiro e obviamente que nesses dias há sempre histórias engraçadas e histórias que ficam. Não sei, não há assim nenhuma especial.
Manuel: Sim, assim uma especial também não estou a ver. É assim, não sei…
Salvador: Mas temos fãs muito simpáticos e muito queridos.
Manuel: É verdade.

W&L: Como é que descrevem a vossa burger life?
Manuel: Olha, ela já está muito bem descrita na sua própria designação.
Salvador: A nossa burger life é parecida com a de muitas outras pessoas. Nós tentamos levar uma vida saudável, mas não conseguimos e pronto há dias piores que outros. O meu conselho é: não comam demasiados kebabs!
Manuel: É que nos festivais de verão, eu para mim não vejo mais nada, é só kebabs.
Salvador: Nós estamos a ficar a banda dos Capitão Badocha.
Manuel: Exatamente.
Salvador: Levamos uma burger life muito intensa. Muitos copos, muitos kebabs e pronto.
Manuel: E pouco exercício físico
Salvador: Burger life é uma opção de vida, fomos nós que escolhemos mas não sei se aconselho
Manuel: Há quem seja vegetariano e só coma…
Salvador: É uma opção de vida, é só isso!
 

 

Texto: Iris Cabaça
Entrevista: Capitão Fausto Entrevista: Capitão Fausto Reviewed by Watch and Listen on novembro 07, 2014 Rating: 5

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