Brockhampton: a nova boy band de uma geração


Ao longo do ano, costumam haver sempre bandas e artistas novos que surgem e acabam por ser uma grande revelação. Alguns ganham reconhecimento devido a críticas nos meios de comunicação habituais, enquanto que, outros nascem através de uma base de fãs na Internet. A última é o caso dos Brockhampton, a nova boy band de uma geração.

Do Texas para a Califórnia, os Brockhampton podem ser descritos como um grupo de mentes criativas que se juntaram para fazerem música. Mais do que uma banda, eles querem ser um coletivo abertamente livre para se fazer arte. Isto é, quem faz tudo desde as músicas, misturas, produção, vídeos, design, app, fotografia até curtas são os próprios. Toda esta arte é criada na apelidada The Brockhampton Factory, em Van Nuys, na Califórnia. Além disso, as coisas que fazem são de uma forma independente, ou seja, não têm nenhuma editora grande por detrás. Inclusive, criaram a sua própria editora: a Question Everything, Inc./Empire. Talvez seja esta liberdade que chamou a atenção dos fãs de música mais atentos da web.

Em 2012, os amigos de secundário Ian "Kevin Abstract" Simpson e Ameer Vann formaram os Alive SinceForever. Mic Kurb e Dom McLennon juntaram-se ao grupo e editaram o seu primeiro EP, The ASF EP. Ao fim de dois anos, separaram-se e foram reformulados como Brockhampton. Devido a isso, decidiram recrutar novos membros através de um fórum do Kanye West, o KanyeToThe. No ano de 2015, lançaram o seu single de estreia, "BET I", com um vídeo realizado pelos membros Henock "HK" Sileshi e Franklin Mendez. Cerca de um ano depois, foi a vez de mostrarem ao mundo a sua primeira mixtape, All-American Trash.


Quanto a este ano, projetou-os para o sucesso, pelo menos, dentro da Internet. Os Brockhampton não lançaram um álbum, nem dois, mas sim três álbuns em menos de 12 meses. Algo icónico e nunca antes concretizado. Os três discos são basicamente uma trilogia. Saturation foi editado em junho, Saturation II em agosto, e, o último, Saturation III no passado dia 15 de dezembro. O quarto longa-duração, Team Effort, está previsto sair em 2018. Como se três álbuns não fossem suficientes, ainda fizeram a curta Billy Star com músicas não lançadas e realizada por Kevin Abstract.


Kevin Abstract, Matt Champion, Ameer Vann, Merlyn Wood, Dom McLennon, Joba, Kiko Merley, HK, Jabaria Manwa, Romil Hemnani, Bearface, Ashlan Grey, Robert Ontenient, Anish Ochani, Jon Nunes, Kevin Doan, e, os associados, Nick Lenzini, Nick Guilmette, Brian Kinnes e Roy Blair formam esta família criativa. Cada um com a sua tarefa, claro.

Anteriormente, Kevin Abstract editou dois discos a solo, MTV1987 e American Boyfriend: A Suburban Love Story, que contaram com a ajuda de alguns membros do coletivo. A sua convicção em querer levar a música a sério começou desde que era novo. Por volta dos 15/16 anos, faltou à escola para enviar uma música a Tyler, The Creator no Formspring, e a reação foi positiva. Abstract é um grande fã de Tyler há muito tempo, mas no ano passado os papéis inverteram-se e o membro dos Brockhampton ganhou um fã, que é um dos seus ídolos. Como tal, foi convidado por Tyler, The Creator para atuar no seu festival, o Camp Flog Gnaw Carnival, em Los Angeles.


O género musical das músicas dos Brockhampton tem, maioritariamente, influências de hip-hop/rap e, também, um pouco de rock e pop. As suas letras são pessoais, o que sentem naquele momento, e cruas. Ao mesmo tempo, falam de temas desta geração como sexualidade, homofobia, racismo, assédio, depressão, vícios de drogas. Ou seja, assuntos que as pessoas desde os 15 anos até aos 30 (e se calhar até as mais velhas), se conseguem identificar. Este é um fator que os torna bastante acarinhados pelos seus fãs.

Quanto ao conceito de boy band, foram eles mesmos que o começaram a usar e estão sempre a reforçá-lo quando se fala deste coletivo. Desta forma, procuram reformular esta designação para terem um significado diferente porque querem e podem fazê-lo. Na maior parte das vezes quando se ouve boy band pensa-se em bandas Pop formadas apenas por rapazes com roupas iguais, coreografias, e canções mainstream. Por enquanto, ainda não chegaram ao mainstream, mas a atitude que têm é a de uma boy band melhorada, diferente, independente e criativa. A máquina de fazerem discos também é um aspeto desse termo. Porém, habitualmente, os outros grupos fazem álbuns de ano a ano. Eles fizeram três em alguns meses. E se é assim que querem ser chamados, então assim o serão.


O grupo enorme de pessoas foi criado na Internet e pela Internet. Não só porque Kevin Abstract recrutou alguns membros via web, mas também porque a sua popularidade se deve à mesma. Uma banda ganhar sucesso por causa das redes sociais não é novidade nenhuma. Eles têm esse conhecimento e conseguiram fazer o mesmo. Talvez tenha sido essa a intenção desde o início, ou tiveram apenas sorte. De qualquer das maneiras, ainda bem que aconteceu porque mais pessoas ouvem os seus temas.

Os Brockhampton são mais do que uma banda, um coletivo, uma família. Pois, representam um futuro de uma geração. A realidade é que a sua curta carreira musical podem inspirar várias pessoas a criarem bandas através da comunidade online, como eles o fizeram, ou até ser inspiradas para outras coisas. Quem sabe se daqui a algum tempo não surgirá uma banda a dizer "fomos inspirados pelos Brockhampton"? Eles chegaram para ficar e mudarem as regras do jogo.


 

Fotos: Ashlan Grey
Texto: Iris Cabaça
Brockhampton: a nova boy band de uma geração Brockhampton: a nova boy band de uma geração Reviewed by Watch and Listen on dezembro 18, 2017 Rating: 5

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