"Tranquility Base Hotel + Casino" dos Arctic Monkeys: uma distopia musical


Os Arctic Monkeys lançaram o seu sexto álbum de originais no dia 11 de maio. "Tranquility Base Hotel + Casino" é o sucessor de "AM". Mais outro álbum diferente da banda britânica que explora temas além de amor e é uma distopia musical.
Ao longo dos anos, o grupo tem mostrado que não é igual a todos os outros que fazem música rock. Pois, cada disco que fazem é sempre diferente do anterior. Nunca fazem a mesma sonoridade. "Suck It and See" e "AM" foram aqueles onde se notou mais essa mudança. Agora, com "Tranquility Base Hotel + Casino" voltaram a mudar o estilo e apresentam algo mais calmo, lo-fi, melancólico e com um toque de jazz. As malhas de guitarra, baixo e a bateria potente de "AM" ficaram mais controladas. Basicamente, é um resumo do que Alex Turner andou a fazer no hiatus da sua banda e a nova forma que descobriu como fazer músicas: escrever letras, tocar ao piano e gravar isso tudo. Em 2016, lançou um álbum com seu amigo Miles Kane para o projeto The Last Shadow Puppets. Um ano depois, escreveu músicas com Alexandra Savior e, ainda, produziu o seu disco de estreia "Belladonna of Sadness". Por isso, não é de admirar que tenha feito um trabalho mais brando sonoramente com os Arctic Monkeys este ano.

"Tranquility Base Hotel + Casino" é um lugar imaginado na lua criado por Alex Turner. Neste mundo, como em qualquer outro, há coisas más e boas. Algumas das más que acontecem no Planeta Terra também sucedem aqui. Para se ler as letras como se fossem capítulos dum livro, este álbum é ideal para se ouvir num gira-discos enquanto se fuma um charuto e se bebe um copo de vinho tinto, numa sala estética com toques de decoração vintage. Isto porque nos transporta para outro lugar, quer seja da nossa mente ou real. Assim, "Star Treatment" é a abertura do disco. Foi o tema que os incentivou a levarem-se nesta nova sonoridade e, ao mesmo tempo, permite-nos entrar neste mundo criado no cérebro de Alex Turner, onde escreveu a letra na perspetiva de uma personagem. Contudo, também é sobre si próprio, e há uma honestidade presente aqui porque fala da sua fama, após o LP "AM", das suas inspirações musicais (The Strokes, Leonard Cohen) e de filmes (Blade Runner, Ghostbusters) e livros (1984 de George Orwell) que ele gosta.

Quando se percebe bem as letras das músicas, é possível reparar-se que há várias referências políticas e atuais presentes nas mesmas. Alex Turner habitou-nos a temas, maioritariamente, sobre amores e desamores com frases que nos entranhavam na cabeça e custavam a sair. Com este álbum, isso também mudou e é tudo mais político. Vale lembrar que é um sítio imaginário criado pelo músico, mas recorre à realidade que se vive todos os dias. Inclusive, há uma frase que fala sobre Donald Trump sem mencionar o nome dele em "Golden Trunks" ("The leader of the free world reminds you of a wrestler wearing tight golden trunks"). No novo single "Four Out of Five", é sobre uma Taqueria na lua chamada Information Action Ratio e podemos ouvir como faz o marketing inventado desse sítio. Aqui fala sobre a gentrificação da Taqueria o que é uma analogia para o que acontece em cidades grandes. Pois, é inevitável que comércio local seja substituído por negócios maiores para outras pessoas fazerem ainda mais dinheiro. Apenas com estes dois temas, é fácil de se entender que Turner apresenta o seu lado mais político. A prova de que a Terra está mesmo uma confusão.


Outro assunto recorrente ao longo do disco é a tecnologia e a forma como nos afeta. Alex Turner não usa redes sociais, como já se ter reparado, mas sabe como a televisão e a internet funcionam. Na Tranquility Base, também existe um problema com o presente e futuro tecnológicos. Apesar de não ter afirmado que é uma crítica à sociedade moderna, serve como uma metáfora para a realidade virtual em que vivemos. Em "American Sports" faz exatamente isso com as frases "My virtual reality mask is stuck on ‘Parliament Brawl’. Emergency battery pack, just in time for my weekly chat with God on video call". No tema "She Looks Like Fun", numa melodia e voz que remetem para um Drácula enternecedor, Turner diz ser "sobre as personagens que as pessoas criam no mundo virtual". Possivelmente, fala sobre as pessoas postarem fotos no Instagram do cheeseburguer que vão comer, e discutirem umas com as outras em poucos caracteres no Twitter. Tal como se pode ler nas seguintes linhas: "Finally, I can share with you through cloudy skies, every whimsical thought that enters my mind. There ain't no limit to the length of the dickheads we can be". Seja num sítio ficcional ou real, a tecnologia irá causar-nos problemas.

A voz melhorada de Alex Turner, e as letras mais políticas são o que desperta mais atenção em "Tranquility Base Hotel + Casino". Porém, o baixo de Nick O'Malley, a guitarra de Jamie Cook e a bateria de Matt Helders ainda estão bastante presentes e são igualmente importantes. Todos os membros foram relevantes para a banda ter conseguido fazer outro álbum com um estilo musical mudado. E só devem continuar assim.


Texto: Iris Cabaça
"Tranquility Base Hotel + Casino" dos Arctic Monkeys: uma distopia musical "Tranquility Base Hotel + Casino" dos Arctic Monkeys: uma distopia musical Reviewed by Watch and Listen on maio 15, 2018 Rating: 5

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