EDP Cool Jazz 2018: À terceira, tivemos Jessie Ware


O relógio marcava as 20h e, à entrada da bilheteira do EDP Cool Jazz, conseguia ouvir-se a incerteza daqueles que (ainda) não tinham bilhete nas mãos, não fosse o caso de Jessie Ware dar uma dela mesma ("dar uma de Jessie Ware" quase que acabou por ser tornar um código para concertos cancelados).

À terceira é de vez e foi mesmo: não houve espaço para arrependimentos e a artista britânica deixou a sua voz ser ouvida por entre as árvores do Parque Marechal Carmona. Começou por derreter o coração de todos os presentes ao som de Sam, o último tema de Glasshouse (2017), que se revelou uma bonita carta de amor à sua família e à esperança de ser tão boa mãe como a sua própria mãe. A emoção da primeira música foi agitada com Your Domino, Running e Champagne Kisses, temas que convidaram às palmas e mostraram a diversidade dos trabalhos produzidos por Jessie. Juntar o sentimentalismo a algo dançável não é fácil, mas Jessie fá-lo de stilettos e com um sorriso na cara. A cantora não deixou de se mostrar deslumbrada com a beleza romântica do Parque, com as luzes a incidir sobre as árvores e a criar uma atmosfera semelhante a um conto-de-fadas. Não deixou de interagir com o público, contando histórias sobre os últimos anos da sua vida, pedindo palmas, tirando o seu tempo para pedir desculpa perante todos os cancelamentos e agradecendo por proporcionarem um espectáculo tão acolhedor. Não faltou Alone e Say You Love Me, talvez os temas mais conhecidos pelo público português, que não ficou calado e acompanhou a cantora em vários momentos.
O inesperado surgiu com What You Won’t Do for Love, de Bobby Caldwell, na voz de Jessie em tom angelical, numa postura de tranquilidade e segurança, não tivesse sido a porta para o riso provocado pela espontaneidade inicial de I guess you wonder where I’ve been. A descontração confortável da artista intensificou a ligação que estabeleceu com a plateia, sem medo de falar da sua vida familiar, das saudades que tem do seu pequeno rebento e da ânsia de voltar a tê-la nos braços, sem medo de enfrentar o facto de ser quase a definição do dicionário para a palavra "cancelar", e comparar, em tom de piada, a sua ausência à do mítico Frank Ocean. O fim chegou com Wildest Moments e o wildest moment surgiu com a invasão da plateia VIP, incentivada pelo pedido de aproximação feito pela artista. Não foi a primeira vez e talvez seja um sinal para acabar com este tipo de divisão, quem sabe. Com um domínio vocal arrepiante, Jessie Ware mostrou que valeu a pena esperar. A pureza que invadiu todo o seu espectáculo foi arrebatadora e não deixou ninguém indiferente. We lose ourselves at night e foi tão bom perdemo-nos no local mais bonito do mundo.

Jessie Ware @ EDP Cool Jazz 2018
EDP Cool Jazz 2018: À terceira, tivemos Jessie Ware EDP Cool Jazz 2018: À terceira, tivemos Jessie Ware Reviewed by Carina Soares on agosto 24, 2018 Rating: 5

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