Super Bock em Stock 2021 - Dia 2: ao abrigo da música

 

O segundo dia do Super Bock em Stock 2021, 20 de novembro, foi muito mais completo do que o primeiro e teve ainda mais concertos para se ver. Bejaflor, Bateu Matou, Benny Sings, Iceage e Wet Leg foram alguns dos nomes que atuaram neste último dia, que pareceu atrair mais público mesmo com a chuva.

 

A primeira paragem foi o concerto de Lila, uma das escolhidas do Singer Contest de 2020 do #OneStep4MusicFest, com Khapo nos beats, na sala 2 do Cinema S. Jorge. Apresentou-se com a sua voz doce e melodias com inspirações de música eletrónica, hip-hop e soul, produzidas por Khapo, num ambiente bastante intimista, como as suas músicas em português e inglês pedem. Também cantou "Valerie" de Amy Whineouse, o que deixou o público bem animado. 

 

Lila @ Super Bock em Stock 2021

 

Na sala Rádio SBSR.FM (Estação Ferroviária do Rossio), Bejaflor subia ao palco com vários convidados para ajudarem à festa de ritmos eletrónicos. Acompanhado por XauLaura nos beats e Sreya e Casa Xangai nos coros, o artista e produtor da editora Maternidade apresentou alguns temas dos seus dois EPs, Bejaflor (2018) e Bejaflor 2 (2020), e ainda outros mais recentes. A primeira convidada foi Vert Gum, e depois chegou Luís Catorze para ambos cantarem "Nem Vi". Em seguida, foi a vez de Sreya passar para a frente para cantarem uma música sobre "gémeos", chamada "Baile", que puxa para a tarraxa. Casa Xangai e Rodrigo Castaño foram os convidados seguintes a juntarem-se a Bejaflor. Por fim, foi a vez de Luís Severo subir ao palco para a atuação de "Naturalismo", enquanto o artista e produtor tocava guitarra elétrica. Desta forma, os convidados ajudaram a dar mais força às suas músicas e a tornarem o espetáculo dançável ainda mais especial.  

 

Bejaflor @ Super Bock em Stock 2021

 

A noite no Bloco Moche, no segundo dia, começou com uma mudança, pois já se sabia desde o primeiro dia do festival que Lon3r Jonhy não iria atuar porque ficou infetado com COVID-19. No seu lugar, assumiu o cantor Domingues. Nascido e criado em Gaia, o nortenho cantou músicas como “Fica”, com mais de 8 milhões de visualizações no YouTube, “Romance de Cinema”, e o seu novo tema, “Vai Dar”. Apesar do pouco público existente na sala, deu para notar que Domingues vai ter um futuro brilhante na música portuguesa, tendo espaço para isso. 

 

O grupo Bateu Matou (formado por Riot, Quim Albergaria e Ivo Costa) aqueceu o público no Teatro Tivoli BBVA. O trio electrizante trouxe convidados bastante conhecidos, tais como Blaya e Favela Lacroix cantaram “Velocidade”. O público presente na sala estava ao rubro com o trio, como se parecesse que a sala se tivesse tornado numa discoteca. Num ano que continua a ser marcado pela pandemia, parece que, neste concerto, o público se esqueceu de tudo ao levantar-se das cadeiras para dançar e a divertir-se como se não houvesse amanhã durante quase uma hora, que era exatamente o que este concerto pedia. Além de Blaya e Favela Lacroix, houve mais convidados a juntarem-se ao baile. Irma subiu ao palco para o tema “Subi Subi”, Héber Marques cantou a “Povo”, Scúru Fitchádu em “Lume” e Pité juntou-se nos temas “Bandido” e “Aonadê”. Para quem quiser bailar ainda mais, o trio tem concerto marcada para 27 de janeiro, no Estúdio do Time Out Market.

 

O holandês Benny Sings foi o primeiro a subir ao palco do Coliseu neste dia e fez-se acompanhar por uma banda espetacular que o fez soar igual às músicas gravadas. Enquanto lá fora fazia frio, o artista aqueceu a sala com os seus temas que têm uma sonoridade californiana. "Kids", "Rolled Up" e "Miracles" protagonizaram os maiores destaques do seu mais recente álbum, Music (2021), e funcionam bem ao vivo. Também houve tempo para outros mais antigos, como, "The Beach House" a transportar quem ouvisse para uma casa na praia imaginária. Outro destaque foi a voz de June Fermie, a sua backup voice, que mostrou os seus fantásticos dotes vocais a ecoarem pela sala. 

 

Benny Sings @ Super Bock em Stock 2021

 

Além do regresso do festival dois anos depois, também foi o regresso dos Iceage, que atuaram em Lisboa na Galeria Zé dos Bois em 2019. Transferidos para uma sala maior do que estava acordado, pois passaram do Teatro Tivoli, onde iriam atuar na sexta-feira, para o Coliseu dos Recreios no sábado devido ao cancelamento de Black Country, New Road. Trouxeram o frio do punk-rock dinamarquês e o novo álbum Seek Shelter, editado em maio deste ano e gravado nos estúdios Namouche, em Lisboa, pelo que eram, possivelmente, um dos nomes mais aguardados neste dia. Abriram o concerto com a efervescente "Forever" de Plowing Into the Field of Love (2014) e rapidamente aqueceram com "Dear Saint Cecilia", onde se ouviu o público nas primeiras filas a gritar "red wine stained lips drip dry". Seguiu-se "Pain Killer", sem a voz de Sky Ferreira. Ao longo do espetáculo, mostraram-se sempre energéticos, principalmente o vocalista Elias Bender Rønnenfelt que andou sempre de um lado para o outro e a aproximar-se do público o mais possível, isto com a sua stage persona fria e agressiva que funciona bem neste caso. Apesar de serem poucos comunicativos, ao contrário de como foi Elias quando veio a Lisboa sozinho em julho, as suas músicas falam por si e as novas resultam bem ao vivo. Destaque para "Vendetta" e, talvez, a que tem mais vibes lisboetas "Shelter Song". Infelizmente, não conseguiram agarrar o público todo, se calhar alguns dos mais curiosos, e a sala começou a esvaziar porque as pessoas decidiram ir ver outros concertos, mesmo com a ótima qualidade que têm ao vivo, o que foi uma pena. Contudo, tiveram muito para dar até ao final com "White Rune" e "Catch It".  

 

Iceage @ Super Bock em Stock 2021

 

O Teatro Tivoli BBVA recebeu mais uma atuação eletrizante com o duo David & Miguel, composto por David Bruno e Mike El Nite, que veio apresentar o álbum Palavras Cruzadas, editado este ano. Acompanhados por António Bandeiras, nos beats e animação, e Marco Duarte, na guitarra, trouxeram consigo as músicas já esperadas, tais como, “Inatel”, “Dias de Verão”, “Amor Pago” e “Passadiços do Paiva”. David e Miguel animaram o público da sala e conseguiram segurar o público continuamente não só com os seus temas, mas, igualmente, com tudo o que os quatro faziam no palco. Apesar de ser um projeto recente, o público entoou, de início ao fim, as canções presentes neste álbum conjunto. É bem possível que possamos ver este projeto conjunto nos em vários festivais de verão do próximo ano.

 

De volta à estação Ferroviária do Rossio, as Wet Leg, duo formado por Rhian Teasdale e Hester Chambers de Isle of Wight, subiam ao palco para um dos concertos mais surpreendentes e refrescantes desta edição. Com uma multidão bem composta por fãs e curiosos, mostraram as suas músicas prontas para mosh com guitarras pontiagudas e letras divertidas e irreverentes que ficam no ouvido, como, "would you like us to assign someone to butter your muffin?". Apenas com dois temas editados até ao momento, "Wet Dream" e "Chaise Longue", que rapidamente ganharam milhões de streams, trazem diversão e frescura ao rock, incluindo ao vivo, e são uma grande promessa do panorama musical britânico e de certeza que irão ter ainda mais sucesso quando editarem o seu primeiro álbum. Claro que esses dois singles com influências de surf rock dos anos 60 não faltaram no alinhamento e tocaram músicas que, possivelmente, se irão ouvir em breve. Uma estreia em solo português que não se esquecerá tão facilmente até voltarem.  

 

Wet Leg @ Super Bock em Stock 2021

 

Na sala Manoel de Oliveira, bastante cheia, no Cinema S. Jorge, era a vez de Priya Ragu estrear-se em Portugal. A artista tem uma mixtape editada em setembro, damnshestamil, e apresentou vários temas da mesma. Acompanhada por uma banda excelente (guitarrista, baterista e dois teclistas) que trouxe exatamente o mesmo som que se ouve em estúdio, houve uma mistura entre hip-hop, R&B, soul e ritmos sul-asiáticos que fez o público cantar. Essas influências são o que distingue as suas músicas e transparecem bem ao vivo, inclusive nomeou The Roots e Stevie Wonder, de quem fez um cover de "Love’s In Need Of Love Today", como duas das suas maiores inspirações, algo notório na sua sonoridade. Ainda partilhou que ela e a sua banda quase perdiam o voo para Lisboa, mas ainda bem que tal não aconteceu porque este concerto foi outra boa surpresa deste dia. No final, chegou um dos melhores momentos da noite com a eletrizante "Lockdown" que fez o público levantar-se das cadeiras para dançar ao som da melodia contagiante e terminou com "Lighthouse". 

 

Priya Ragu @ Super Bock em Stock 2021

 

A edição deste ano acabou oficialmente com o DJ set de Moullinex B2B Anna Prior num Coliseu dos Recreios transformado numa pista de dança, quase como se fosse um Lux Frágil mas com mais espaço para se dançar. E foi, provavelmente, a maior enchente nesta sala durante este último dia, o que mostra as saudades que o público tinha de dançar num festival ao som de música eletrónica e alguns clássicos, como "O Leãozinho" de Caetano Veloso trauteada por Anna Prior.

 

Moullinex B2B Anna Prior @ Super Bock em Stock 2021
 
Com o final de mais um Super Bock em Stock comprova-se uma tendência que tem sido notória nos últimos anos: os concertos de nomes nacionais têm cada vez mais adesão do que alguns internacionais e existe menos distinção entre uns e outros. Ainda mais, foi bom regressar-se a um festival com esta dimensão e quase semelhante à sua penúltima edição. 

Texto: Pedro Miguel & Iris Cabaça
Fotos: Iris Cabaça
Super Bock em Stock 2021 - Dia 2: ao abrigo da música Super Bock em Stock 2021 - Dia 2: ao abrigo da música Reviewed by Watch and Listen on novembro 25, 2021 Rating: 5

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