Super Bock Super Rock 2022: Dia 2 – A ceia de C. Tangana


 

O segundo dia do Super Bock Super Rock, 15 de julho, na Altice Arena, trouxe duas grandes estreias a Portugal: o madrileno C. Tangana e a argentina Nathy Peluso. E ainda hip-hop em português.

 

No palco LG by Rádio SBSR.FM, os Classe Crua vieram apresentar o seu álbum de estreia homónimo, editado em 2019, no dia com mais nomes de hip-hop no cartaz. O projeto criado por Beware Jack e Sam The Kid, que este ano teve presença assídua em quase todos os festivais de verão, fez-se acompanhar por AMAURA nas backing vocals e o DJ Maddruga nos beats. Ainda chamaram Blasph para o tema “Ondulação”. Com Beware Jack a assumir os comandos e Sam The Kid a apoiá-lo, o duo trouxe rimas cruas e melodias acertadas quase no final da tarde. 

 

Classe Crua @ Super Bock Super Rock 2022
 

Desde o momento em que Nathy Peluso entrou em palco até sair, quase que não deu espaço para o público respirar da entrega que dá em cada música, incluindo os movimentos de dança presentes durante o concerto. Após uma entrada que elevou logo os ânimos, a artista argentina veio com tudo e surpreendeu quem assistiu ao belo espetáculo. As suas músicas variam entre ritmos de hip-hop, neo-soul, salsa e tango, as quais por vezes se encontram nos mesmos temas. “Sana Sana”, “Mafiosa” e “Puro Veneno” são alguns dos exemplos dessa mistura, onde Peluso dançou maravilhosamente bem ao som de cada canção e deixou o seu sangue latino sobressair nestes momentos. Até dançou com uma rosa na mão, que a seguir deu a uma fã. Também cantou “Ateo”, a colaboração com C. Tangana, sozinha e num tempo mais adequado às suas melodias. Apenas deu para se descansar um pouco com a balada “Buenos Aires”. Um concerto poderoso que agarrou o público do início ao fim e que alegrou os seus fãs e quem esperava pelo nome seguinte no palco principal.

 
Nathy Peluso @ Super Bock Super Rock 2022
 

C. Tangana foi claramente o grande nome desta noite pela quantidade de pessoas que estiveram presentes no concerto, a maior enchente deste dia e, possivelmente, do resto do festival. Em 2019, estreou-se num Musicbox lotado apenas com um álbum, Ídolo (2017), e uma mixtape, Avida Dollars (2018), na sua fase de hip-hop e trap e antes do sucesso de El Madrileño (2021). Para quem esteve nesse concerto, se calhar não foi assim tão chocante ver a Altice Arena tão cheia para o ver, principalmente com êxito que tem tido desde o ano passado. Ao mesmo tempo, deu um dos melhores concertos nos festivais de verão deste ano, mostrando que se pode apostar no país vizinho e em novos nomes. Visualmente, montou um restaurante/club como uma espécie de última cena em palco, o que fez jus às imagens, vídeos do seu mais recente álbum e ao Tiny Desk (Home) acompanhado pelos seus músicos. A mistura que o madrileno faz entre sons mais tradicionais, como o flamenco, com outros mais modernos, como o hip-hop e o trap, no seu novo disco não é novidade nenhuma depois de El Mal Querer (2018) de Rosalía, mas fá-lo à sua maneira, tornando-o único. Já ao vivo, as músicas ganham uma dimensão maior com o espetáculo todo que tem montado em palco e a entrega que dá em cada uma. Atirou logo alguns dos seus temas mais fortes no princípio, tais como, “Te Olvidaste” com Omar Apollo, “Comerte Entera” com Toquinho e “Ateo”, a colaboração de sucesso com Nathy Peluso, mas que infelizmente não teve direito a ser ouvida com ambos os artistas juntos no mesmo palco, apenas ouviram-se duas versões diferentes. Com “Demasiadas Mujeres” levou o público ao delírio com as pessoas a saltarem e algumas nos ombros de outras. Enquanto “Me Maten”, “Ingobernable” e “Muriendo de Envidia” vão buscar os ritmos ao flamenco mais tradicional e arrancaram alguns movimentos de dança e palmas sincronizadas, “Nunca Estoy” e “Tú Me Dejaste De Querer”, com La Hungara e Niño de Elche, vão por caminhos mais pop e contemporâneos. Quase no final, ainda trouxe “Antes de morirme”, colaboração com Rosalía aqui na voz de Lucía Fernanda, e “Cuando Olvidaré”, onde se ouviu um discurso do falecido cantor Pepe Blanco retirado de uma entrevista e que passou nos ecrãs. “Um Veneno” e a cover da canção italiana “Al di la” de Emilio Pericoli, enquanto abria uma garrafa de espumante e atirava a espuma, fecharam este grande espetáculo com chave de ouro e suor. Ora sentado na mesa que se encontrava a meio do palco, ora de pé, ora em cima dela, durante mais de uma hora, C. Tangana dominou a Altice Arena do princípio ao fim e levou facilmente o prémio de melhor concerto desta edição do Super Bock Super Rock.


C. Tangana @ Super Bock Super Rock 2022
 

A seguir, foi vez de se ir para o palco-Cinderela (aka o EDP) para o concerto da rapper Capicua. A artista já tinha sido confirmada para o cartaz desde 2020, no mesmo ano em que laçou o novo álbum Madrepérola, e dois anos depois finalmente teve a oportunidade de voltar ao festival em força. Ainda a apanhar um bocado do final do concerto de C. Tangana, quando ele acabou a sala foi enchendo cada vez mais. “Planetário”, com Mallu Magalhães, e “Circunvalação” mostraram alguns dos melhores momentos do novo trabalho. Também não faltaram os temas mais antigos e conhecidos da rapper, a sonhadora “Vayorken”, “Alfazema”, “Casa no Campo” e a icónica “Maria Capaz”. Ainda houve tempo para chamar Lena D’Água para atuarem “Último Mergulho” juntas. No dia mais dedicado ao hip-hop, porque contava com mais artistas inseridos nesse género musical, Capicua foi a única mulher e rapper a atuar, infelizmente. Apesar desse facto, nada a parou de disparar rimas feministas ao longo do concerto e ainda bem. 

 

Capicua @ Super Bock Super Rock 2022
 

Os britânicos Hot Chip regressaram ao festival e encerraram a noite no palco Super Bock. Após a enchente de C. Tangana, a arena encontrava-se visivelmente mais vazia, mas nem isso os impediu de animarem o final da noite e meterem o público a dançar. O final da festa fez-se ao som de “Flutes”, “Down” e “Over and Over” deixando a plateia com energia para o dia seguinte que foi bastante preenchido. 

 

Hot Chip @ Super Bock Super Rock 2022
Super Bock Super Rock 2022: Dia 2 – A ceia de C. Tangana Super Bock Super Rock 2022: Dia 2 – A ceia de C. Tangana Reviewed by Watch and Listen on julho 26, 2022 Rating: 5

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