Cor D'Água de T-Rex: a versatilidade do artista

 

Os tempos mudam, e o hip-hop nacional está constantemente a sofrer alterações e a adaptar-se cada vez mais às novas tendências. O ano mal começou e fomos surpreendidos pelo novo e primeiro álbum de estúdio de T-Rex, Cor D’Água.

 

O álbum, inicialmente, era para ter sido lançado até ao final de 2022, mas o artista admitiu que existiu alguns atrasos no requisito de finalização da mixagem. Apesar disso, não desapontou os fãs e aproveitou para lançar o tema “Donde” em dezembro, como modo de preparação para o que poderíamos esperar.

 

Cor D’Água reflete as vivências pessoais de T-Rex. O álbum demorou três anos a ser produzido, com algumas paragens a meio com o lançamento de dois projetos: Gota D’Espaço em 2020, e Castanho em 2022. O tema que abre o álbum, “Uuuuhh”, demonstra a energia que o artista tem em palco. É o mais recente single do álbum, com um videoclip onde começa a viagem pelos vários tons. O tema conta com a produção do próprio artista, onde ele também assina mais outras produções próprias neste álbum. 

 

 

Destaque para os seguintes temas: o animado “Teste” com a participação de DCOKY; “Dias” com participação de Slow J, que fez o artista de Setúbal sair da sua toca, e aponta para o top das colaborações mais fortes deste ano; “50 Cêntimos” e “Jumpinit”, que finaliza o álbum. São alguns dos principais temas em que se nota a versatilidade de T-Rex ao colocar a sua energia e os seus sentimentos nas letras e melodias. Em “50 Cêntimos”, vemos quem é realmente Daniel Benjamin. Um rapaz que, na sua infância, tinha pouco dinheiro para poder almoçar na escola e que geria o dinheiro que os seus pais lhe davam para poder comer, onde o artista também desabafa sobre lidar com a fama que ganhou nos últimos anos.

 

T-Rex não começou a sua carreira a solo: o artista faz parte do grupo Máfia 73, onde também conta com a presença de Pimp William, Dvk, Kush e Demme. E, para o seu primeiro álbum, chamou o seu grupo para uma colaboração no tema “Old Skool”, tema que faz algumas referências a algumas modas do passado e se nota as suas influências mais old school, tais como, Tupac, Busta Rhymes e Eminem. Um tema energético, ativo e essencial no seu primeiro álbum.

 

Não podia faltar um interlúdio neste álbum, e é onde entra o tema “Parágrafo Interlúdio”, que conta com a participação de Mkmike, que pertence à mesma label de T-Rex, a We The Gang. O interlúdio assenta-se bem, visto ser uma ponte da primeira para a segunda parte do álbum.

 

Para quem gosta mais dos “sons de amor”, assim como o artista descreve, temos o tema “Não mexer”. Existem rumores de que este tema estava gravado desde 2019 e era para ter entrado no EP Chá de Camomila, porém não entrou e a faixa ficou em cativeiro para poder entrar no álbum. E ainda na onda do tema do amor, também temos as faixas “Volta” e “Feeling”, que já tinham sido lançadas em 2021, e entraram para o álbum porque faziam sentido estarem presente. A última menção vai para “Ta Tudo Bem”, faixa que conta uma relação antiga do artista e com um beat calmo, melódico e de reflexão.

 

O álbum correspondeu às expectativas e demonstrou ser um projeto à altura de todos os seus últimos projetos: energético, intenso e cheio de tons. É um álbum onde T-Rex assume-se como água e reflete todo o seu caminho que percorreu para chegar até onde está agora e não vai arredar pé. De um lado, há músicas mais mexidas para se saltar e fazer mosh nos seus espetáculos, do outro, o artista mostra o seu lado mais calmo para se respirar e acompanhar-se melhor as letras. A versatilidade do rapper luso-angolano é transversal. Do trap ao afroswing, T-Rex é uma das maiores surpresas no que toca à música portuguesa nestes últimos anos. A nova geração do hip-hop tuga está mais viva do que nunca e recomenda-se a audição destas incríveis vinte faixas. 

 

E, para quem quiser ouvir estes temas ao vivo, o artista vai apresentar-se pela primeira vez nos Coliseus de Lisboa, a 4 de fevereiro, concerto já esgotado, e no Coliseu do Porto, a 11 de março, bilhetes aqui. Além disso, o artista também está confirmado para a 2ª edição do festival Rolling Loud Portugal, a decorrer de 5 a 7 de julho em Portimão. Não vão faltar oportunidades para poder ver o novo espetáculo de T-Rex.


 

Texto: Pedro Miguel
Capa do álbum: Bertony
Cor D'Água de T-Rex: a versatilidade do artista Cor D'Água de T-Rex: a versatilidade do artista Reviewed by Watch and Listen on janeiro 28, 2023 Rating: 5

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