Vodafone Paredes de Coura 2018: e o problema é que eu adoro Coura
O Vodafone Paredes de Coura voltou ao habitat natural da música para a sua 26ª edição. O primeiro dia, 15 de agosto, trouxe algumas surpresas e alguns nomes acarinhados pelo público português. Também se realizou a primeira Vodafone Music Sessions.
A minha pitinha. Foi assim que Conan Osiris apresentou Sreya, na primeira Vodafone Music Sessions, na já a abarrotar Leira de Cima. Ao contrário do que se esperava, não ouvimos Osiris duas vezes no mesmo dia: foi a voz de Sreya que soou nos ouvidos dos presentes, com a colaboração do cantor nos beats. Emocional, o álbum de estreia de Sreya, teve mão de Conan Osiris e isso reflecte-se nas batidas contagiantes, acompanhadas por letras que assentam como uma luva na expressão "primeiro estranha-se, depois entranha-se". No ouvido e no Bandcamp, ficam temas como 59 Estrelas, Flores Picantes e Miúdo Normal. No final da session, uma fatia acabada de sair do forno para quem adora bolos.
Grandfather's House abriram o primeiro dia do festival. A banda portuguesa já tinha passado pelo Palco Vodafone FM em 2016; desta vez, regressou para abrir o palco principal. A banda de Famalicão aqueceu o público com o seu synthpop.
Da sua primeira passagem por Portugal, o neozelandês Marlon Williams levou consigo a sensação gelada, quase cortante, da água que corre na Praia Fluvial do Taboão e deixou um Paredes de Coura com o coração nas mãos. Desconhecido para a maioria, chegou ao palco principal completamente sozinho, com a sua guitarra na mão; uma música foi suficiente para começar a prender a atenção do público e chamar Yarra Benders, a banda que apoia os espectáculos desta tour. O concerto em Coura soube a romance de fim da tarde, como uma declaração de amor louco do artista a Portugal, ao fado e aos fãs. Para muitos, caso para dizer que foi amor à primeira vista. Se as músicas são de partir o coração, a sua voz é suficiente para juntar os cacos e colá-los de forma bonita, de forma leve. A setlist conquistou com Nobody Gets What They Want Anymore e The First Time Ever I Saw Your Face.
O vermelho dos lenços distribuídos mais cedo começou a erguer-se nas caras dos festivaleiros como uma defesa habitual perante o pó levantado pelos moshes. Soube-se que era altura de gritar Gravidade a plenos pulmões para receber o regresso de Linda Martini aos palcos do Vodafone Paredes de Coura, quatro anos depois, numa passagem rotineira pelas emoções cruas a que as letras acostumaram tão bem. A dinâmica dos concertos da banda de rock português não é novidade para aqueles que os acompanham há alguns anos: são as letras que parecem encaixar na alma de quem as ouve, é o Foder é perto de te amar gritado ao expoente das cordas vocais, é a junção entre os arrepiantes clássicos - não fossem O Amor é Não Haver Polícia, Amor Combate ou Berlarmino Vs. os temas que mais agitam a plateia -, e os novos sons do álbum homónimo - já sabemos quem dá a cara como Linda Martini e traz consigo temas como Boca de Sal, Dez Tostões ou Quase se Fez uma Casa.
King Gizzard and The Lizard Wizard não falham uma
passagem por Portugal a cada tour e atraem sempre multidões. Já
passaram por vários festivais portugueses e este ano voltaram ao Vodafone
Paredes de Coura, após terem atuado lá em 2016. Tal como aconteceu há dois
anos, houve moshes, crowdsurfing e pó do princípio ao fim do concerto. Os temas
Rattlesnake, Gamma Knife e Robot Stop foram alguns dos que provocaram a maior
loucura na plateia. Um concerto de rock psicadélico com tudo o que se tem
direito.
The Blaze foram a grande revelação da noite com a sua
eletrónica sonhadora. Os dois primos Jonathan e Guillaume Alric, ambos
produtores e realizadores, vieram apresentar o seu disco de estreia Dancehall, editado este ano. Os ecrãs no palco foram abertos lentamente, a dar espaço para entrar no mundo dos The Blaze através da dança, e soube-se
que este concerto seria a maior surpresa no alinhamento deste dia. Com um
espetáculo visual deslumbrante, encarregaram-se de projectar uma história imaginada ao som dos temas do EP Territory (2017) e do single Heaven (2018). Levaram o público numa viagem aos confins dos ritmos eletrónicos franceses e transformaram o Palco Vodafone num verdadeiro dancehall.
O nome Conan Osiris tem estado nas bocas do mundo da música portuguesa, a despertar a curiosidade e a gerar as mais diversas opiniões. Há quem ame, há quem odeie, há quem não entenda: no seu concerto, muitos foram aqueles que assistiram de braços cruzados e com expressões confusas, muitos foram aqueles que dançaram e gritaram as letras dos álbuns Silk (2016), Música, Normal (2016) ou Adoro Bolos (2018). A curiosidade falou mais alto e o Palco Vodafone FM estava a abarrotar, afinal não é todos os dias que se dançam músicas sobre celulite, bolos, kebabs e o "titanique". A personalidade engraçada, com as piadas que vai atirando para o ar de vez em quando, também cativa os seus fãs. Estes foram os ingredientes que marcaram a sua presença no festival. Quer se goste ou não, a realidade é que mais ninguém em Portugal faz aquilo que Conan Osiris faz e isso deve ser louvado. Juntamente com o seu bailarino João Reis Moreira, a festa esteve pelas costuras neste primeiro after, ao som de Amália, Borrego, Coruja, Titanique ou 100 Paciência.
O ator e DJ Nuno Lopes atuou logo no primeiro dia para dar as boas vindas aos campistas. Animou o resto da noite com o seu DJ set e encerrou o primeiro dos quatro dias no Couraíso.
Texto: Iris Cabaça e Carina Soares
Fotos e vídeo: Iris Cabaça
Fotos e vídeo: Iris Cabaça
Vodafone Paredes de Coura 2018: e o problema é que eu adoro Coura
Reviewed by Carina Soares
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setembro 14, 2018
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