NOS Primavera Sound 2016: o Parque da Cidade respirou felicidade pura durante 3 dias
Nos passados dias 9, 10 e 11 de Junho fomos até ao Parque da Cidade no Porto para mais uma edição do NOS Primavera Sound. A quinta edição contou com Air, Animal Collective, Beach House, entre muitos outros e foi de tirar o chapéu. Foram três dias de muita festa, música, coroas de flores e felicidade que já deixam muitas, mas muitas saudades. Os quatro palcos do festival ofereceram grandes concertos que merecem ser recordados e que não nos importávamos nada de repetir. A meteorologia nem sempre esteve do lado dos festivaleiros, mas nem assim deixou de se viver o espírito único que este festival nortenho proporciona a qualquer um que por ali passe.
O nosso primeiro dia do festival, dia 9, abriu com o concerto dos Wild Nothing. Foi uma boa maneira de abrir a nossa época mais primaveril, ao som do bom indie rock da banda norte-americana. A banda deu um concerto enérgico que surpreendeu-nos e cativou a plateia que se encontrava no Palco Super Bock. De seguida, deslocamos-nos até ao Palco NOS para assistir ao concerto dos Deerhunter, enquanto o sol de punha. A noite estava a dar entrada no Parque da Cidade e melhor banda sonora não se podia ter pedido. O único defeito dos Deerhunter foi terem-se dirigido ao público português em espanhol, mas estão mais que perdoados. Foi um belo concerto, e dos poucos deste dia que ainda viu alguns raios de sol e nenhuma chuva. Seguiu-se Julia Holter no Palco Super Bock e ouvia-se por todo o lado dizer que o concerto era um dos obrigatórios do festival. E após se ouvir a senhora, não nos restam dúvidas que quem o disse estava certo. Julia Holter encantou com a sua pop sentimental eletrónica que encaixou na perfeição com o ambiente do festival, e deixou todos a querer mais. Um regresso para breve seria bem vindo. Após Julia Holter, seguiu-se um dos grandes concertos da noite e provavelmente um dos melhores do festival. Os Sigur Rós subiram a palco com as suas melodias doces e emocionantes e foi de cortar a respiração. O incrível espetáculo que a banda trouxe até ao Parque da Cidade deixou todos boquiabertos e sem palavras. A banda não só faz chegar a magia das suas canções até nós, como também, faz dos seus concertos um fantástico espetáculo de luzes. Emocionantes e únicos. Para limpar as lágrimas que os Sigur Rós deixaram, vieram os enérgicos Parquet Courts no palco ao lado, o Palco Super Bock. A banda proporcionou outro dos melhores concertos que passaram nesta quinta edição do Nos Primavera Sound. Ninguém conseguiu ficar indiferente à energia da banda nova iorquina. Nem mesmo a chuva que fez questão de aparecer, em grande, perto do início do concerto. A festa continuou ainda assim e ninguém se sentiu intimidado pela chuva. Assistir ao concerto dos Parquet Courts era a prioridade e ainda bem que assim o foi. Com expectativas superadas, seguimos para os aguardados Animal Collective, outro dos melhores deste festival com sabor a primavera. Os Animal Collective eram um dos nomes mais aguardados desta edição e não será de estranhar o porquê. A banda do experimentalismo que sabe a verão atuou com a chuva ainda a espreitar, mas isso não afetou em nada a alegria com que se viveu o grande concerto. Os Animal Collective colocaram todos a dançar e a cantar ao som da "FloriDada" entre muitas outras e soube a mel. A banda triunfou e fechou assim a nossa primeira noite do festival da melhor forma possível.
O segundo dia do festival abriu com um concerto perfeito para se ver sentado: Destroyer. As expectativas eram altas e de certo modo ficou aquém do esperado e desiludiu relativamente. Destroyer é fantástico em estúdio, mas ao vivo sofre discrepâncias que vão de querer estar totalmente atento e a dar tudo a querer ir embora. Cativante, mas não o suficiente para ser bom. Às oito da noite, quando o senhor Brian Wilson subiu a palco para apresentar o Pet Sounds, o Parque da Cidade parecia que tinha feito uma regressão no tempo. O ambiente uniu-se com as canções dos 60's e ninguém ficou indiferente às melodias do lendário Pet Sounds. As letras sabiam-se e a felicidade por ouvir os conhecidos temas era inevitável. Brian Wilson, sempre de bom humor, correspondeu às altas expectativas e deixou as críticas negativas de lado. E a energia frenética assim se manteve (e suspeitamos que aumentou) no concerto a seguir, ao som das Savages. As quatro raparigas têm energia para dar e vender e não pararam nem por um segundo de dar tudo o que tinham. Jehnny Beth, a voz da banda, não consegue parar quieta e ora circulava pelo palco, ora ia ao público. A vocalista tem uma energia incrível e deixou claro o carinho que a banda sente pelo público português. Um carinho que é muito bem correspondido. Seguiu-se a bela PJ Harvey, um concerto muito aguardado por nós e que caiu que nem uma luva. PJ Harvey tinha atrás de si um palco bem elaborado e deu um concerto belíssimo onde tocou muitos dos seus êxitos. Um concerto de tirar o fôlego e julgamos que terá sido essa a causa que levou ao público a parecer estar algo morto. As pessoas limitaram-se a observar imóveis o que estava a acontecer em palco. Polly Jean Harvey presentou o Parque da Cidade com um concerto arrepiante e um fim ainda mais surpreendente do que o esperado, lançando uma última cartada antes de abandonar o Palco Nos. Geralmente os concertos limitam-se a acabar, mas até os fins a cantora teima em pensá-los bem e faz com que sejam únicos e inesquecíveis. Seguiu-se uma explosão eletrizante de dinamismo patrocinada pelos Protomartyr no Palco Pitchfork. Não conhecíamos a banda até ao anunciamento da mesma no festival. Desde aí que se tornou óbvio que iria fazer parte dos nossos nomes obrigatórios e não nos arrependemos da escolha. Aquecemos os ânimos com Protomartyr e a banda provou ser ainda melhor ao vivo do que já é em estúdio. Cativantes e enérgicos, não deixaram ninguém indiferente nem quieto por um segundo que fosse. Seguiram-se os emotivos Beach House, o melhor concerto deste segundo dia e um dos melhores do festival. Já era certo e sabido, mesmo antes de vermos o concerto, que os Beach House integrariam o nosso top de melhores concertos do Nos Primavera Sound. A banda correspondeu às expectativas e ainda teve a ousadia de as superar. Nem o público que insistia em falar num concerto que se deve calar, estragou a beleza aterradora que só os Beach House conseguem oferecer. A maior parte limitou-se a fechar os olhos, deixando-se levar pelo dream pop da dupla. Lágrimas caíram, sorrisos foram esboçados, tudo em honra das sublimes melodias. No fim fica a sensação de que foi curto e soube a pouco, mas soube mais que bem. Belíssimos, sublimes, fantásticos. Deixaram saudades no mesmo segundo em que abandonaram o palco, e encerraram assim o nosso segundo dia do festival.
O fim aproximava-se, infelizmente, e com ele chegou o terceiro dia do festival que trouxe até ao Parque da Cidade e ao Palco Nos a banda portuguesa, Linda Martini. A banda fez mais do mesmo e deu um concerto à medida do que era esperado. Como já referido por nós, ver Linda Martini é uma garantia de que se irá assistir a um bom concerto. As emblemáticas não faltaram e o público fez, como habitual, por mostrar o carinho que tem pela banda. Seguiu-se uma das mais agradáveis surpresas do festival. Os Algiers são uma banda com um futuro promisor e isso ficou claro após o belo concerto que deram no Palco Super Bock. A boa onda da banda é estimulante e mesmo sem conhecer grande coisa, saímos fãs. Para chegar a tarde em grande, no palco ao lado, veio a banda fofa de Nova Iorque. Os Chairlift deram um concerto bem melhor do que no passado Vodafone Mexefest e tocaram durante muito mais tempo, para a felicidade de todos. Mais livres e desenvoltos que no Mexefest, a banda tocou quase todas as canções que os fãs esperavam ouvir, e a simpatia da banda cativou todos os presentes. Mesmo os que afirmavam que a banda não era muito a sua praia, gostaram e isso só por si diz muito. Depois dos doces Chairlift, que foram um dos nossos concertos preferidos, veio a banda explosiva de rock experimentalista que colocou o Parque da Cidade a dançar sem parar. Os Battles atuaram no Palco Super Bock e deram um concerto imperdível, que mereceu e teve direito a todas as palmas que levou. Nem por um segundo foi possível parar de se abanar a cabeça ou mesmo dançar com o parceiro do lado, já que era quase impossível estar-se quieto ao som de canções tão agitadas. Seguiram-se os Air e a agitação dissipou-se dando lugar a uma calmaria exorbitante. Os Air deram um concerto que nos deixou sem palavras e somente com a sensação de que foi um dos melhores que vimos durante todo o festival. As melodias únicas do duo francês mereciam mais silêncio e respeito, mas nem isso abalou o significado único e a maravilhosa sensação que o concerto teve e proporcionou-nos a nós e aos demais que estavam a vivê-lo. Foi algo único e belo, e muito acima do que esperávamos. Dizemos com todas as certezas que não existem palavras para descrever, e que uma mão cheia de elogios para o duo não é suficiente. Nem uma, nem duas. Mãos infinitas de elogios talvez se adeque mais. À mesma hora que os incríveis Air, uma de nós teve a curiosidade de espreitar o concerto dos Titus Andronicus no Palco Pitchfork. Apesar da forte concorrência com um dos grandes nomes do festival a atuar à mesma hora, a banda ainda conseguiu atrair várias pessoas para o seu concerto e não é de estranhar o porquê. Depois do excerto que se viu do concerto arrebatador, torna-se óbvio o porquê da escolha dessas pessoas. A energia transcendente da banda é única e fica o sentimento de pena de não ter sido a uma hora, em que seria possível ter-se visto na íntegra. Quem sabe para a próxima. Depois do concerto arrebatador da noite (leia-se Air), seguiram-se os Explosions In The Sky que queríamos muito ver mas que não cativou como esperávamos. Não que tenha sido um mau concerto, pois esteve bastante longe disso. A culpa foi do público, e somente do público. O ambiente agitado prejudicou, já que as pessoas não respeitaram o caráter calmo que deve existir ao assistir-se a um concerto deste género. A enchente em frente ao Palco Super Bock para os ver e a hora do concerto, também não ajudou, matando um bocado as explosões no céu que a banda poderia ter provocado. Talvez numa próxima seja possível apreciar a verdadeira beleza que a banda tem para oferecer, já que foi um bocado impossível desta vez. Ty Segall ou Moderat? Era a questão que se colocava de seguida. E nós dividimos-nos. Uma foi a Moderat e um pouco a Ty Segall. Outra a Ty Segall na íntegra. E a que foi a Ty Segall ainda chegou a tempo de ver um bom excerto de Moderat e afirmamos com toda a certeza: foi a escolha mais dura do festival, já que ambos foram concertos que nos deixaram de rastos só pelos bons motivos. Ty Segall foi pura e simplesmente, a loucura total. Dos que vimos, foi o concerto que mais mosh provocou e o crowdsurfing também marcou presença. O público foi levado à euforia total e o senhor, que acha os seguranças rudes com as pessoas, não teve medo de dizer o que lhe passava pela cabeça nem de demonstrar que vale ouro. Os êxitos que colocaram todos a dançar e a cantar em uníssono provaram que a enchente em frente ao Palco "." não foi à toa e que a legião de fãs do músico só tende a aumentar e aumentar. Moderat, por outro lado, transformou a frente do Palco Nos numa autêntica pista de dança frenética e foram mesmo outro dos melhores concertos que passaram pelo festival. A própria banda estava a apreciar tanto o ambiente que tava a causar, que fez um encore bastante sorridente e longo. O ambiente do Primavera não só nos apaixona, como também as bandas se deixam envolver por esta paixão e os Moderat são um exemplo vivo disso. A noite continuou no Palco Pitchfork até às tantas da manhã com muita dança, e no final até custou dizer adeus. Ficam as saudades que nunca acabam, e a ansiedade para a próxima edição. O Nos Primavera Sound será para sempre um dos nossos festivais de eleição, e aconselhamos vivamente a que o visitem num futuro próximo se ainda não o fizeram. Não haverá lugar para arrependimentos, é uma garantia que vos damos. Obrigada por tudo, Primavera.
NOS Primavera Sound 2016: o Parque da Cidade respirou felicidade pura durante 3 dias
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junho 18, 2016
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