Vodafone Paredes de Coura: 25 anos de emoções fortes
O Vodafone Paredes de Coura teve início no passado dia 16 de Agosto. Podemos adiantar que foram quatro dias repletos de boa música e grandes concertos. O festival fazia 25 anos e faz parte da lista de todos os reais amantes de música quase desde as primeiras edições que contaram com grandes nomes da música internacional. Esta 25ª edição não podia ter sido diferente, com um cartaz de tirar o folêgo. Podemos até dizer que esta edição foi além da música, tendo esgotado e atraído público bastante distinto entre si e que não se é habitual de se ver pelo recinto.Um dos sintomas que Coura já não é só para os amantes de música, mas para o povo. O festival está a crescer e com isso também cresceu a vontade de se mostrar ao mundo inteiro, que foi claramente bem sucedida nesta edição.
O primeiro dia, dia 16 de Agosto, conhecido pelo dia de recepção ao campista, deixava só o palco Vodafone a funcionar mas foi tudo o que foi preciso para entrar com o pé direito nesta edição. A Escola do Rock e The Wedding Present foram os primeiros nomes a pisar o palco desta edição do festival, e abriram em cheio as honras para os grandes concertos que se seguiam. Seguiram-se os Mão Morta que deixaram o público dividido. É claramente uma banda para fãs, e fãs apenas. Poucos conseguem apreciar os encantos da banda, mas quem consegue garante que foi um dos melhores do dia. Após a refeição pesada, seguiu-se o digestivo eletrónico britânico: Beak>. Com uma fórmula, simples, eficaz e fácil de entender a banda encantou todo o recinto e deixou-nos a desejar por mais. O concerto da noite aproximava-se com os sempre enérgicos, Future Islands. Era uma banda que estava na nossa lista de espera já há algum tempo e uma coisa é certa: valeu toda a espera. O vocalista frenético e sempre em movimento contagiou qualquer pessoa que estivesse a ver o concerto. Até os mais tímidos. Ninguém parou de dançar do início ao fim, e quem sabia cantou as tão belas e conhecidas letras. Não foi tão abrasador como o que se diz que aconteceu no Musicbox, mas foi o suficiente para nos retirar o fôlego. Sem palavras. Future Islands em sala é uma urgência a nível nacional. Para fechar a noite, o concerto mais surpreendente do dia, no sentido mais positivo destas palavras: Kate Tempest. Como quem nos conta uma história antes de irmos dormir, a artista inundou o ambiente de rimas subtis com mensagens mundiais significativas. Muita gente não conhecia o trabalho de Kate Tempest, mas ninguém saiu do recinto indiferente nesse dia e temos a certeza que muitos dos que não conheciam são agora fãs. O dia encerrou-se assim, com preocupações mundiais a circularem-nos a cabeça e concertos bonitos e inesquecíveis que já deixavam saudades.
Chegávamos assim a um dos dias com concertos bastante ansiados por nós e muitos portugueses. O nosso dia 17 de Agosto começou com um momento de reencontro, com os Sunflower Bean no Palco Vodafone FM. Tínhamos visto a banda pela primeira vez, o ano passado no Vodafone Mexefest e confirmamos que foi tão aconchegante e bonito como há uns meses atrás. A bonita voz de Julia Cumming, que nos faz sorrir genuinamente, foi acompanhada dos acordes que sobrevoam entre o rock psicadélico e o post-punk revival que nos remetem, sempre, para os anos 80. Maioritariamente ouviram-se canções novas, que irão constar no novo trabalho da banda e embora mais pesadas que as antecessoras, merecem uma audição cuidada. Seguiram-se os Car Seat Headrest no Palco Vodafone. Era provavelmente um dos concertos mais aguardados pelo público, ainda que já tenham vindo a Portugal, e não é de admirar porquê. O quarteto americano apresentou-se o ano passado no NOS Primavera Sound. Lá, ganhou o coração de todos os portugueses que compareceram, claramente, nesta noite em Paredes de Coura, para cantar todas as canções que foram previamente estudadas em casa. O indie rock à moda antiga nunca é demais, e a prova disso foi esta hora de concerto, em que a intensidade máxima e acordes infalíveis foram a chave de ouro para o sucesso. Se soube a pouco, com certeza que sim. O festival Vodafone Paredes de Coura é conhecido por responder às preces dos festivaleiros, e a prova disso era o concerto que se seguia. A pedido de muitas famílias, King Krule, era o próximo artista a pisar o palco principal e terras lusas pela primeira vez em muito tempo. E que bonito que foi, não poderia ter sido escolhido melhor local para um regresso tão especial. As canções já tão entranhadas no cérebro de qualquer amante de indie rock, foram entoadas em uníssono e com toda a felicidade de quem já aguardava por este momento há algum tempo. Soberbo e inigualável. Fica a questão: para quando sala? No Palco Vodafone Fm começava, pouco depois, o concerto dos Ho99o9. Se gostam de Death Grips, deviam ter estado em Paredes de Coura neste dia a assistir a este concerto. O som é semelhante e a pujança está quase ao mesmo nível (os Death Grips continuam a levar a medalha de ouro para casa). Ainda assim, os H099o9 encarregaram-se de trazer um som novo e refrescante no meio de tanto indie rock para o festival. Foram mais que bem recebidos e correu às mil maravilhas. Fica a sensação de desejo no ar, por parte do público, de continuação de inclusão no cartaz destes projetos que se afastam do indie e alternativa. Os At The Drive In seguiram-se com um império intocável de post-hardcore que mexeu com todos. A loucura instalou-se e levou todos a um estado de pleno êxtase. De repente a nostalgia atacou e, parecia que tínhamos voltado à nossa rica adolescência onde, encontrávamos o nosso local de refúgio de todas as desilusões amorosas e frustrações diárias, nestas canções. O famoso mosh marcou presença e ninguém quis ficar de fora, enquanto gritavam as letras a altos pulmões. As expectativas foram cumpridas e a banda poderia ter continuado em palco por muitos mais minutos que ninguém daria por isso. De seguida, Nick Murphy subiu a palco. O artista deu claramente um concerto mais fraco, do que os anteriores que tinha dado a título de Chet Faker. Mas, ainda assim, foi o suficiente para cativar e deixar todos presos do início ao fim. As canções de Nick Murphy não resultam tão bem ao vivo como as do seu heterónimo Chet Faker. Ainda assim, foi um concerto agradável em que não foram esquecidas as canções do seu alter-ego para a felicidade de todos. Acabava assim mais um dia bem sucedido no Couraíso.
O tempo passa a correr e quando demos por nós já estavamos no dia 18 de Agosto, o terceiro e penúltimo dia do festival. O dia começou com o estrondoso concerto de Young Fathers. A banda não nos era desconhecida, mas foi como se tivéssemos perante uma descoberta de uma banda nova que é tão possante que nos deixa de queixo caído. Uma redescoberta portanto. A energia arrebatadora e os sons tribais provocaram em todos os presentes movimentos involuntários que apenas abrandaram no final do concerto. Se sempre fomos admiradoras, saímos do festival totalmente fanáticas. Uma coisa é certa: não temos qualquer intenção de deixar a banda de fora de qualquer playlist nos próximos tempos. Horas mais tarde, o Palco Vodafone teve a honra de receber mais um da saga "os grandes concertos destes 25 anos". Os Badbadnotgood instalaram-se sobre o habitat natural da música com o seu mundo de distintos sabores entre si. Distintos, mas que jogam todos bem uns com os outros. Ora jazz, ora hip hop, ora música eletrónica que fazem o corpo dançar de múltiplas maneiras. A variedade sonora faz parte do jogo de cintura da banda e o deslumbramento pela banda aumentou, e espalhou-se, pelo recinto. Se em casa, ouvindo o disco,já soava bem, ao vivo consegue ser ainda três vezes melhor. Até mais que três vezes. Fica a sensação de que foi curto e soube a pouco, mas o que foi visto deu para saciar a vontade que havia de ver a banda. No mesmo palco, um concerto no Palco Vodafone mais tarde, os Japandroids subiram a palco transformando o recinto num ringue dedicado ao mosh pit agressivo e efusivo. A banda já tinha estado cá meses anos, no NOS Primavera Sound, mas a julgar pelas aparências ninguém se pareceu importar com o regresso. Os dias de uma distante adolescência que no dia anterior tinham vindo ao de cima, voltaram a renascer mais uma vez neste festival. As letras já são bem conhecidas por todos nós e a euforia não ficou de parte. Não foi um dos melhores concertos desta edição, mas foi o que bastou para que todos saíssemos satisfeitos com a prestação da banda. Seguiam-se as doces e suaves melodias dos Beach House, uma das bandas que mais gostávamos deste cartaz. O concerto foi belo e um dos melhores desta edição, ainda que incompreendido por grande parte do público. Pondo isto de parte, uma coisa é certa: a graciosa Victoria bombeou os nossos corações com a sua voz angelical acompanhada das tão calorosas melodias do dream-pop mais bonitas do mundo. De coração cheio, levámos uma memória feliz deste concerto para casa. Para terminar a noite em grande e de modo entusiasta, passámos pelo Palco Vodafone FM para o after-hours do festival e descobrimos Roosevelt, o projeto que merece toda a vossa atenção. Não conhecíamos o projeto, mas ficámos fãs. Um after-hours ao nível do que o festival merece, o synth-pop viajante e dançável fez-nos claramente calçar os dancing shoes e gastar as últimas baterias com todo o entusiasmo que o concerto mereceu. De 0 a 10, quão bom foi fechar com os Roosevelt? 11.
Para nossa grande infelicidade e tristeza, o último dia do melhor festival do país, dia 19 de Agosto, tinha chegado. Mas vendo o lado positivo, ainda nos restava um dia inteiro para viver muitos bons concertos e boas emoções. E tão bem que foi aproveitado. Começou logo com Foxygen, no Palco Vodafone. Sempre simpáticos e divertidos, os Foxygen proporcionam ao seu público um espectáculo onde há espaço não só para a música como também para as artes visuais e conversas divertidas que arrancam sorrisos espontâneos. Inferior ao concerto que foi visto em 2015 no NOS Primavera Sound, sem margem para dúvidas. Ainda assim foi um bom serão e deu para matar saudades da banda. Alex Cameron começava entretanto no Palco Vodafone FM. Não deu para ver na íntegra, mas o pouco que assistimos deu para entender que é obrigatório no futuro ver-se um concerto completo. Bendito seja o promotor que patrocinar o regresso do australiano. Uma das mais belas vozes da existência humana, estava prestes a pisar o Palco Vodafone. Benjamin Clementine, conquistou o nosso coração desde o seu primeiro concerto no Super Bock Super Rock há dois anos atrás. Voltámos a ver o artista no Vodafone Mexefest, onde deu um concerto que nos deixou sem palavras e de lágrimas nos olhos. Era a terceira vez que íamos ver Benjamin Clementine e sabíamos à priori que seria O concerto do festival. E assim o foi. O artista voltou a deixar-nos sem palavras. Mais uma vez, não existem palavras suficientes que possam descrever o magnífico concerto a que assistimos. Todos queriam ver Benjamin Clementine. A plateia estava a abarrotar, e não conseguíamos ver ninguém com os olhos deslocados do anfiteatro natural. Logo nos primeiros minutos de concerto, podemos garantir que todos ficaram rendidos, e com arrepios que percorriam todo o corpo, graças à sua voz soberba e emotiva. As palmas e os assobios foram constantes e, mesmo conhecendo e sabendo do que Benjamin é capaz, o queixo caído é a maior constante dos seus concertos. Parece sempre que é a primeira vez que o vemos. Foi arrebatador e foram muitos os que se desmancharam em lágrimas. A beleza e magnitude do concerto não davam para menos. Benjamin encantou o mundo e encantou, ou aumentou encantos em, Paredes de Coura. Benjamin Clementine está de parabéns. Totalmente de parabéns. Levou assim a medalha de ouro destes 25 anos de música esplêndida numa das localizações mais bonitas de Portugal Continental e até do mundo. O lado emotivo imperava após o grande concerto de Benjamin Clementine mas duraria por pouco tempo. Os Lightning Bolt eram um dos nomes mais esperados desta edição e era o concerto que se seguia, no Palco Vodafone FM. Se há minutos atrás tudo o que se queria era derramar lágrimas de emoção, o que se passou a querer assim que o duo de noise subiu ao palco era libertar todas as energias e entrar no mosh pit que teimava em se alargar. Os acordes pesados e a pujança e robustez pareciam fazer o sangue bombear mais depressa. Não foi um concerto para todos os ouvidos, mas os que sabem apreciar garantem que foi um estrondo e um dos melhores desta edição. E nós, não poderíamos deixar de concordar que foi dos melhores. A apanhar o fim deste excepcional concerto, estava a iniciar-se Ty Segall no Palco Vodafone. Muito mais fraco que no ano anterior, quando tivemos a oportunidade de ver um grande concerto deste senhor no NOS Primavera Sound, temos que admitir que ficámos algo desapontadas. Começou muito bem e achávamos e se avistaria um concerto digno de fazer parte da lista dos nossos preferidos, mas à medida que foi avançado, caiu em exaustão pois a fórmula monótona não deu resultado positivo. Uma pena. Para fechar os 25 anos com chave de ouro, seguiam-se um concerto dos Foals. Já os tínhamos visto mas ainda assim confessamos que era uma das bandas que mais queríamos ver. Porque, que melhor fórmula para atingir a perfeição do que ver os Foals no anfiteatro mais bonito do mundo? Os palpites estavam certos. A fórmula resultou e foi capaz de atingir a perfeição pretendida e sonhada por todos. Todas as canções necessárias ao culminar da felicidade foram tocadas e cantadas em uníssono por praticamente todos os presentes no recinto. Os Foals têm uma declarada relação de amor com o público português, que os venera e reza sempre pelo retorno. Só não foi o melhor desta edição porque Benjamin Clementine tinha atuado neste festival. Ainda assim, os Foals estiveram a dois passos desse título. Mas, a zero passos de levar o nosso coração para casa. As bodas de prata terminaram com o DJ set de Nuno Lopes, que já é uma presença habitual no festival, onde tornou o recinto numa pista de dança. Houve confettis, músicas de Tame Impala e muita felicidade no ar neste momento final.
Tinha chegado ao fim mais uma edição do festival Vodafone Paredes de Coura. Parabéns a toda a organização pelo bonito que conseguiram alcançar e por 25 anos de muito sucesso e boa música. Que venham mais 25. Fomos de coração cheio para casa e com as melhores memórias possíveis. Para sempre, de facto.
Texto: Alexzandra Souza
Fotos: Iris Cabaça
Vodafone Paredes de Coura: 25 anos de emoções fortes
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agosto 27, 2017
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