Dead Combo e BadBadNotGood no EDP Cool Jazz: a reinvenção do improviso


Rumámos a Cascais para a 15ª edição do EDP Cool Jazz, desta vez numa localização diferente. Já no seu segundo dia, a 17 de julho, depois da passagem de David Byrne e Sara Tavares pelo Hipódromo Manuel Possolo, sentámo-nos para os concertos de Dead Combo e BadBadNotGood. Com o dia a terminar (não na perspetiva dos festivaleiros), foi com mais uma Cascais Jazz Sessions e na companhia de Ricardo Marques que o sol deu lugar ao lusco-fusco e trouxe os dois grandes nomes da noite.

Ouvir Dead Combo é recordar a essência de Lisboa e reviver aquele sentimento de pertença às sete colinas; ainda que, nos últimos tempos, pareça perder-se algures entre o turismo massificado e a especulação imobiliária. Não estávamos no coração dos bairros alfacinhas, mas os lugares são o que fazemos deles e Cascais não foi excepção. O hábito associa Dead Combo ao duo formado por Tó Trips e Pedro Gonçalves; porém, às vezes, velhos hábitos morrem e dão lugar a quintetos. Para além da guitarra e do baixo, o palco foi ocupado pela dimensão musical da bateria, do saxofone e do violoncelo. Foi com Deus Me Dê Grana, do novo álbum Odeon Hotel (2018), que voltaram a mostrar que o fado e o rock se podem influenciar mutuamente e originar uma coesão melódica de fazer arrepiar até os menos sensíveis. Nem só de novos temas se encheu o parque e ainda bem: nada melhor que recordar Lisboa Mulata ou Esse Olhar Que Era Só Teu e deixar que o silêncio atento da plateia fale por si. Que continuem a trazer-nos Lisboa através da vibração das suas cordas.

Dead Combo @ EDP Cool Jazz 2018

BadBadNotGood subiram a palco para enfrentar o frio da noite de Cascais e reafirmar aquilo que, à partida, não era difícil perceber: carregavam o peso de nome mais aguardado pelo público. Depois da passagem inesquecível pelo Vodafone Paredes de Coura em agosto do ano passado, o quarteto canadiano regressou para provar que o jazz deixou de ser apenas o filho querido de Nova Orleães e traçou a sua nova identidade, de mão dada ao hip hop e à electrónica. O piano de James Hill foi o ponto de partida para transformar o Parque Marechal Carmona num cenário (quase) idílico, que acolheu os festivaleiros para hora e meia de um instrumental digno de um filme de produção independente. E se o piano de Speaking Gently trouxe a calma, esta pouco durou: a bateria de Alexander Sowinski, o baixo de Chester Hansen e o saxofone de Leland Whitty fundiram-se num ritmo improvisado, numa atmosfera alucinante onde a música foi a linguagem escolhida e cujos instrumentos se transformaram em palavras que não tiveram de ser ditas. Enganem-se aqueles que pensaram que o seu bilhete traria a oportunidade de descansar as pernas enquanto o som preenchia todo o espaço: a plateia, sentada quase por obrigação, foi várias vezes incentivada por Alexander a levantar-se, a agitar-se, a aproximar-se dos músicos e acabar com as barreiras impostas pelas grades que separavam a plateia VIP das restantes. Foi preciso lutar contra a vontade de fechar os olhos e deixar o ritmo apoderar-se dos movimentos do corpo, não quiséssemos acompanhar o dedilhar hipnotizante ou o preencher incessante da caixa torácica que nos fez acreditar que o improviso resulta extraordinariamente bem e não tem como dar errado. Do alinhamento fizeram parte ainda temas como WEIGHT OFF e Lavender, ambos em colaboração com KAYTRANADA, que acordaram a vontade de dançar em todos os presentes, e Chompy's Paradise ou Kaleidoscope. Faltaram talvez as vozes de Samuel T. Herring ou Charlotte Day Wilson para acrescentar a sonoridade vocal que ficou escondida entre as árvores. Não sabemos se o hip jazz irá acabar por crescer (ou até mesmo afirmar-se com esta designação), mas que BadBadNotGood colocam as expectativas demasiado altas lá isso colocam. Os tempos rígidos do jazz ouvido em bares americanos têm os dias contados com estes quatro rapazes (e não podemos deixar de ficar expectantes).

Badbadnotgood @ EDP Cool Jazz 2018
Dead Combo e BadBadNotGood no EDP Cool Jazz: a reinvenção do improviso Dead Combo e BadBadNotGood no EDP Cool Jazz: a reinvenção do improviso Reviewed by Carina Soares on julho 24, 2018 Rating: 5

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