PLAY - Prémios da Música Portuguesa 2024: o melhor da música nacional?
Os PLAY - Prémios da Música Portuguesa realizaram-se ontem à noite no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Esta foi a 6ª edição da cerimónia de prémios que pretende premiar o melhor da música nacional, mas ano após ano fica a pergunta: é mesmo isto o melhor da música portuguesa?
Vamos por partes, das 14 categorias e dos 50 nomeados a concurso, 28 são nomes masculinos enquanto o número de nomes femininos desce para metade, 14 nomeadas, e em alguns categorias, como na Vodafone Canção do Ano ainda dividem a nomeação com outros músicos, tais como, Como Tu de Bárbara Bandeira e Ivandro e Maria Joana de Nuno Ribeiro com Calema e Mariza. Se formos a contabilizar todos os homens nomeados, quer a solo, colaborações ou grupos, o total é 74 homens nomeados, enquanto a totalidade de mulheres nomeadas é apenas 18, menos de metade. Se retirarmos as categorias de Melhor Artista Masculino, Melhor Artista Feminina, Prémio da Crítica e Prémio Carreira, a diferença continua a ser significante: 68 nomeados e 14 nomeadas. Nas categorias principais, como Melhor Álbum, Carminho foi a única mulher nomeada. Na categoria Melhor Álbum Jazz não há nenhuma mulher à vista que tenha sido nomeada. Já no que toca às atuações fica tudo pior e o baixo número de mulheres é ainda mais notório, pois Jüra foi a única mulher a solo a pisar o palco do Coliseu para atuar e, curiosamente, trouxe a melhor atuação à cerimónia. Mais à frente, Diana Lima atuou com Murta o tema Tu Sabes e, no final, viu-se algumas mulheres em palco a atuarem com Pedro Mafama e Grupo Coral Paz e Unidade de Alcáçovas e La Família Gitana. A pouca representação de artistas mulheres e a inexistente de artistas queer é gritante, e as escolhas de atuações mostraram isso mesmo, algo que atualmente não deveria acontecer porque existem muitas mulheres e pessoas queer a fazerem música no país que merecem estar nestes sítios. Isto tudo enquanto alegados abusers pisam o palco e apresentam prémios como se nada fosse.
Um dos géneros mais ouvidos em Portugal é o hip-hop, que já merecia uma categoria própria e, talvez, uma dedicada ao rap crioulo, aqui apenas representado com a nomeação de Chakras de Ivandro e Julinho KSD, caso não o inserissem nessa categoria, apesar deste ano alguns dos maiores artistas do género terem sido nomeados: Slow J, vencedor do Prémio da Crítica e de Melhor Artista Masculino; T-Rex, vencedor de Melhor Álbum com Cor D'Água; e os Wet Bed Gang que foram nomeados para Melhor Grupo. Mesmo com Slow J, que não compareceu para levar os seus dois prémios para casa, e T-Rex, que aproveitou para fazer um discurso longo, e Leo2745, vencedor de Artista Revelação, terem vencido não é o suficiente para se celebrar o hip-hop e rap nacionais. Também faria mais sentido se o Prémio Lusofonia nomeasse artistas dos PALOPs em vez de ser só artistas brasileiros com reconhecimento, e que provavelmente não sabem ou nem ligam que foram nomeados. Por outro lado, se formos a falar do género que mais se ouve nas rádios, que é a pop, também merecia uma categoria própria, mas só teve alguma atenção quando Bárbara Bandeira ganhou na categoria de Melhor Artista Feminina. Claro que numa cerimónia transmitida em direto na RTP que dura cerca de 3 horas, se forem adicionadas mais categorias irá prolongar-se ainda mais, mas uma solução para isso é darem-se alguns prémios fora da cerimónia como acontece nos Grammys.
Por fim, se as duas majors, Sony e Universal, são o mote para os artistas serem nomeados e vencerem, que hipóteses existem para outros artistas que não fazem parte delas porque estão noutras editoras ou são independentes? Isto quando uma grande porção dos artistas e bandas nacionais não faz parte dessas duas editoras. As exceções este ano foram Ana Lua Caiano (nomeada para Artista Revelação), Expresso Transatlântico (nomeados na mesma categoria e na de Melhor Videoclipe com Ressaca Bailada) e A Garota Não (nomeada para Melhor Artista Feminina). Contudo, nenhum destes artistas levou um prémio para casa. Ainda mais, no ano passado houve vários lançamentos bons e diferentes de discos em Portugal, tais como, Três Anos de Escorpião em Touro de Filipe Sambado, Gótico Português dos Glockenwise e Still Life da April Marmara são alguns exemplos de álbuns e artistas que, infelizmente, não se conseguem inserir nos PLAY por serem independentes e não terem sequer a distribuição de nenhuma das duas majors associada aos seus discos e, provavelmente, por causa disso nem podem ser escolhidos para uma shortlist porque as hipóteses de o serem parecem ser mínimas. Portanto, onde é que artistas sem estas editoras ou grandes equipas ao seu lado podem ser considerados para os prémios? De acordo com as últimas edições, não podem.
Há espaço para os PLAY melhorarem estes aspetos nas próximas edições se assim o quiserem. Se não o fizerem, então não podem continuar a dizer que celebram o melhor da música portuguesa quando não representam nem 1/4 do que se faz e ouve no país, e os únicos critérios não podem ser as editoras nem os números de streams.