Primavera Sound Porto 2023: Dia 4 - O encerramento com chave de ouro
Halsey, New Order e Blur encerraram a edição deste ano no quarto e último dia do Primavera Sound Porto.
O último dia de um festival convida sempre a alguma reflexão. Com as reservas energéticas mais em baixo é importante que o festivaleiro trace o plano para o dia: que concertos ver sentado, que concertos lutar pelo lugar na grade e que concertos não ver para ir jantar. Este quarto dia de Primavera Sound foi uma exceção. Com cabeças de cartaz como Halsey e Blur, e sendo o palco principal num sítio plano, ainda antes de as portas abrirem já alguns fãs aguardavam para tentarem a sua sorte na frontline deste palco. Mas o dia ainda seria longo até que os headliners pisassem o palco.
Uma das bandas que está a ganhar cada vez mais atenção devido às suas letras irónicas e de caráter político, focadas no capitalismo e gentrificação, acompanhadas por riffs de britpop pisou o palco Porto ao final da tarde. Os Yard Act apresentaram-se já atrasados na hora mas seguros da sua energia e potencial. Já no palco Vodafone, Israel Fernández y Diego del Morao traziam o flamenco à cidade invicta, convidando-nos a sentar com eles no seu semicírculo de palmas e imagética espanhola.
O recinto ia enchendo aos poucos à medida que o sol se ia pondo por trás do palco principal. E foi neste palco que os septuagenários Sparks encantaram um público surpreso que aguardava a chegada dos dois artistas que iriam ocupar os seus lugares nas horas mais tardias da noite (não sem antes de passarem pelas festas do Senhor de Matosinhos, onde posaram com os carrosséis).
Com o sol já posto, Julia Holter subia ao palco Plenitude, com uma localização nova e vista para o mar. Com o seu fiel teclado, com o qual veio em 2016, deu um momento de descanso e respiração antes de uma série de concertos vibrantes e com alguns problemas técnicos.
O primeiro destes concertos foi Yves Tumor que, entre um microfone desligado nas primeiras duas músicas, instrumentos que iam perdendo som durante o concerto e uma qualidade de áudio estridente, trouxe uma energia caótica que dividiu opiniões. Cantou de costas para o público, desceu para o fosso levando os cabos atrás de si e terminou dizendo que a banda ia acabar. Se alguns juram ter sido um dos melhores concertos do festival, outros acusam os problemas técnicos de não ter atingido o potencial que podia ter tido.
Ao mesmo tempo, e realçando as sobreposições de horário, Halsey subia ao palco principal trazendo If I Can’t Have Love, I Want Power, na sua estreia em Portugal. Aqueles que esperaram toda a tarde por esta atuação, não precisaram de ser conquistados. Mas certamente aqueles que ali esperavam por Blur saíram com mais um nome para adicionar às playlists. Em contacto próximo com um público que se fez ouvir por todo o recinto, vibrando a cada canção, Halsey mostrou como se dá um bom espetáculo. Fazendo uso de todo o palco, que se acendeu com fogo, o mote estava dado para um dos melhores dias de encerramento do Primavera Sound.
Já no antigo palco principal, agora com as cores da Vodafone, os New Order subiam ao palco enquanto uma plateia muito diversificada os esperava. Um concerto que passou pelos grandes êxitos da banda que emergiu do fim dos Joy Division, com visuais vibrantes e genica de fazer inveja a muitos dos jovens que ali estavam, interrompido por duas vezes por falhas de luz frustrantes que cortaram todo o som. Apesar do primeiro corte ter parecido propositado, permitindo ao público cantar o refrão de True Faith numa versão a cappella, Bernard Summer foi rápido a tentar explicar por mímica que se tratava de um problema técnico. True Faith ainda foi retomada mas cortada novamente por mais um corte de energia. Quando a banda retomou ao palco a decisão foi a de passar para Blue Monday, num público que se mostrou extasiado mas com receio de uma nova interrupção, que felizmente nunca chegou.
Para encerrar o novo palco Porto, os Blur aguardaram que os New Order terminassem o concerto que se alongou um pouco mais devido aos problemas sentidos. Mas assim que entraram em palco, as músicas seguiram-se de rajada, num set com vinte músicas que passou a pente fino o best of dos 34 anos de atividade dos britânicos. Com Damon Albarn, que o ano passado esteve presente com os seus Gorillaz, e Graham Coxon intercalando o comando do microfone, os Blur mostraram que não há idade para o britpop, que o britpop é para todos e que o britpop nunca vai morrer. Assim, a banda encerrou o palco principal com chave de ouro.