NOS Alive 2023: Dia 1 - chegou mais uma edição de casa cheia e com rock na ponta da língua


O mês de Julho começa e já não se pensa noutra coisa: o aguardado regresso do NOS Alive ao Passeio Marítimo de Algés. A 15ª edição conta com nomes de luxo, com Red Hot Chilli Peppers, The Black Keys, Arctic Monkeys, Lizzo, Lil Nas X, Sam Smith e Queens of the Stone Age como cabeças de cartaz. Com dois dos três dias com lotação esgotada, são esperadas cerca de 165 mil pessoas no festival.


No palco WTF Clubbing, Ana Lua Caiano veio apresentar o seu mais recente EP Se Dançar É Só Depois, editado em maio. A artista encantou o público com a sua mistura entre música tradicional e beats eletrónicos, que ao vivo ganham outra dimensão e os sintetizadores são mais prolongados. Mão na Mão e Olha Maria foram alguns dos temas que mais chamaram a atenção da plateia bem composta e que meteram as pessoas a baterem aos mãos no mesmo ritmo. Ainda convidou Fred Ferreira para tocar bateria em Dói-me a Cabeça e o Juízo e Adormeço Sem Dizer Para Onde Vou.

 

Ana Lua Caiano @ NOS Alive 2023 

 

No Palco NOS, a tarde arrancou com The Driver Era. A banda de rock alternativo da Califórnia fez a sua estreia em Portugal e muitos foram os gritos que acompanharam a subida dos irmãos Lynch ao palco principal. É notório que o vocalista Ross Lynch entende o carisma que carrega e a influência que tem na audiência, o que se reflete num espectáculo que conta com interações reduzidas - mas bem escolhidas - com o público. Também não é surpreendente que Ross tenha feito a escolha de aparecer em palco de camisa aberta, não fosse a sensualidade do artista um factor que fez com que a banda ganhasse alguma tração na rede social Tik Tok, através de vídeos da tour e até mesmo edições feitas por fãs. Um dos momentos mais carinhosos do concerto foi a presença de AlexAnn Hopkinsnamorada de Rocky Lynch, que dançou animadamente em palco e se despediu com um beijo e trocou sorrisos com Rocky antes de acenar aos milhares de fãs que estavam a incentivá-la. O alinhamento começou com Nobody Knows, do álbum de estreia X (2019), e terminou com A Kiss, também do mesmo álbum. Algumas das músicas mais conhecidas, como é o caso de Afterglow, Fantasy e Natural, foram recebidas positivamente pelo público, que aproveitou para cantar, dançar e gravar vídeos para mais tarde recordar. Além disso, houve também um mash up da música Malibu com Wild Thoughts da Rihanna. Não foi um concerto particularmente memorável, mas os dois irmãos mostraram que estão à vontade a marcar presença nos palcos internacionais e sabem como entreter uma audiência ao final da tarde, com o sol a pôr-se e com muitos elogios à beleza natural do Passeio Marítimo de Algés.


The Driver Era @ NOS Alive 2023 

Seguimos com Men I Trust no Palco Heineken e temos uma certeza: com base na dimensão da audiência que ocupou o palco secundário, a banda canadiana mostrou que merecia ter feito parte do alinhamento do palco principal desta edição. Apesar de não ser, de todo, a sua primeira vez no nosso país, a banda consegue sempre arrastar consigo uma legião de fãs considerável, que se deixa encantar pela voz magnética e suave da vocalista Emmanuele Proulx. O espectáculo começou com Show Me How, um single lançado em 2018 e integrado no álbum Oncle Jazz (2019). Men I Trust é uma banda que faz acreditar que estamos a viver numa realidade onírica durante os todos minutos que fazem parte do seu espectáculo e é essa particularidade que motiva tantos fãs a voltar a vê-los múltiplas vezes. Além de Show Me How, também soaram temas como Days Go By, Say, Can Your Hear e Tree Among Shrubs, parte de trabalhos mais recentes da banda. É impossível assistir a um concerto de Men I Trust sem ficar apaixonado pela voz hipnotizante que é tão característica de Proulx e foi isso que se provou mais uma vez no palco secundário do festival.

 

Men I Trust @ NOS Alive 2023 

 

Vinda de Brookylin e com morada permanente no espaço gigantesco que é o universo, do qual parece ser filha, Yaya Bey foi a primeira confirmação para este ano no Palco WTF Clubbing. Com um público que podia passar como pingos de chuva, a artista mostrou que merecia ter audiências de milhares a admirar a sua voz poderosa e a sua presença gigantesca em palco. Apesar do espectáculo ter começado com alguns problemas técnicos, nada disso foi suficiente para atenuar a energia que se soltava de Yaya Bey. Esta fez questão de falar da progressão da sua tour, que acabaria um dia depois da sua passagem pelo NOS Alive,  e de como é cansativo para o corpo e para a mente estar em constante movimento e que isso começou também a afectar a sua voz e a sua postura perante os outros. Mostrou-se positivamente admirada por Portugal ter sido dos lugares onde passou por mais pessoas negras e falou da sua experiência noutros lugares na Europa, mencionando que se torna solitário ser uma artista negra numa sociedade que é ocupada maioritariamente por pessoas brancas. A mensagem ativista é uma constante na obra de Yaya Bey e fala, entre outros, da relação entre o capitalismo e a forma como as pessoas são vistas dentro desse sistema. No alinhamento, músicas como meet me in brookyln, you up? e on the pisces moon captaram a atenção do público. Nota-se que Yaya Bey continua a crescer como artista e como pessoa através das suas composições, o que ajuda a alicerçar o seu nome enquanto uma das novas artistas do neosoul americano e quem sabe se não vem a ser um dos próximos grandes nomes do R&B a nível mundial.

 

Ao mesmo tempo no palco Heineken, Jacob Collier regressou a Portugal depois de ter passado pelo Coliseu de Lisboa no ano passado. Numa espécie de orquestra frenética, o artista ora saltava de um lado para o outro no palco, ora tocava pandeireta ou piano e, ainda, pedia ao público para o acompanhar nas suas harmonias. As artistas que o acompanhavam também não ficaram nada atrás e mostraram as suas belas vozes em certos momentos do concerto. Perto do final, Maro subiu ao palco para atuarem Lua juntos ao piano. Um espetáculo repleto de alegria e groove.

 

Jacob Collier @ NOS Alive 2023 

Já soavam as saudades de ter The Black Keys em Portugal e, passada quase uma década, a banda americana regressou ao Palco NOS. Ainda que El Camino (2011) e Brothers (2010) sejam considerados as obras-primas, quase numa posição de culto, para os fãs de The Black Keys, a discografia da banda de rock é extensa e repleta de músicas que fazem com que a audiência não fique parada. Infelizmente, a grandiosidade das suas músicas não se mostrou como deveria ter mostrado, uma vez que o som do palco principal deixou a desejar e muito. A maioria dos temas não se ouvia no recinto e, quando se ouvia, o som parecia abafado, quase distorcido, e foi difícil aproveitar um espectáculo onde as condições não eram propícias ao sucesso. Ainda que o público se mostrasse claramente insatisfeito com a qualidade do som naquele momento, a banda não deixou ninguém indiferente e não deixou ninguém ficar parado. Voltaram grandes temas como Tighten Up, Everlasting Light, She's Long Gone, Lonely Boy e Howlin' For You, que são um sucesso entre os fãs mais antigos da banda. Também houve espaço para ouvir músicas mais emotivas, como Little Black Submarines e Weight of Love, e para abanar todos os ossos do corpo, com temas como Gold on the Ceiling e Fever. Foi bom recordar um espectáculo que fez parte dos grandes nomes da edição de 2014 do NOS Alive e esperemos que, num desejado e provável regresso, a banda tenha direito ao som que merece para a grandiosidade do seu trabalho.


De volta ao palco WTF Clubbing, os Throes + The Shine subiram a este palco pela quarta vez no festival e contaram com bastantes pessoas a verem e a dançarem durante o concerto. A festa foi da rija com a fusão que fazem entre kuduro, rock e eletrónica, visto que, transmitem sempre a sua energia imparável durante cerca de uma hora. O vocalista Mob Dedaldino dançou e puxou pelo público desde o início até ao fim, com Marco Castro nas teclas a trazer as sonoridades eletrónicas e Igor Domingues na bateria a dominar as batidas mais rockeiras, Assim, o trio conquistou as pessoas com temas como Balança e Musseque e, ainda, houve tempo para uma cover Mariquinha do artista Bonga, que foi uma decisão certeira a meio do espetáculo. Este foi o concerto, sem dúvidas, mais carregado de energia e era impossível alguém ficar parado sem mexer um pé ou abanar a anca. No final, o trio ainda chamou algumas pessoas para subirem ao palco e, desta forma, terminar esta quarta volta em grande. 

 

Throes + The Shine @ NOS Alive 2023 

 

E se alguém não sabia que Red Hot Chilli Peppers iam estar presentes nesta edição do festival, o merch por todo o recinto não enganava nem a pessoa mais distraída. Os fãs da banda americana estavam por todo o lado na cidade de Lisboa: no metro, no comboio, no barco. Era impossível ignorar que a mítica banda liderada por Anthony Kledis ia ocupar o palco principal do NOS Alive. E assim foi: uma legião de fãs encheu o recinto do festival à espera de ouvir algumas das suas músicas favoritas.  A energia dos americanos continua a não falhar com o passar dos anos e os seus fãs continuam fiéis como sempre foram. Do alinhamento, fizeram parte clássicos como Don't Stop, Californication e Under The Bridge, assim como outros temas menos conhecidos do público geral como Soul to Squeeze e Black Summer.

 

 

Texto: Carina Soares & Iris Cabaça
Fotos: Iris Cabaça

NOS Alive 2023: Dia 1 - chegou mais uma edição de casa cheia e com rock na ponta da língua NOS Alive 2023: Dia 1 - chegou mais uma edição de casa cheia e com rock na ponta da língua Reviewed by Carina Soares on julho 14, 2023 Rating: 5

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