MEO Kalorama 2024 – 3º dia: a devoção de Raye encantou o Parque da Bela Vista
No último dia do MEO Kalorama, a estreia de Raye em Portugal foi um dos melhores momentos do festival, Ana Moura mostrou novamente a grande artista que é, Burna Boy deu um concerto morno e Yves Tumor fechou o festival em grande.
Ana Moura apresentou-se no Palco MEO para dar O concerto pop do festival, mas sem esquecer as suas origens no fado. A artista veio acompanhada pela sua banda e um grupo de bailarinos perfeitamente coreografado aos ritmos das suas músicas.
Começou com o seu mais recente single Lá Vai Ela, editado em 2023, o que foi uma ótima escolha para abrir o concerto. A seguir, abriu a porta da sua Casa Guilhermina, álbum de 2022, com Andorinhas, Calunga e Jacarandá, um tema dedicado a Prince, e meteu logo o público a dançar mesmo em Desfado, um dos seus maiores hits. Ainda trouxe uma cover de Te Amo dos Calema e apresentou uma música nova apelidada Desliza com uma coreografia arrojada, mas o tema, por enquanto, não soa tão forte como o seu mais recente trabalho.
Arraial Triste voltou a meter o público a dançar, e depois Loucura, que cantou à acappella, foi o momento bonito e mais calmo do espetáculo que foi sempre a abrir. Já em Agarra em Mim, o artista e seu companheiro Pedro Mafama apareceu em palco para se juntar a Ana Moura no momento mais sensual da noite.
A música sobre a sua prima Mázia deu por terminado o concerto, e no final ouviu-se o remix de Vanyfox, e a certeza de que Ana Moura pode ser fadista e artista pop enquanto traz sonoridades de kizomba e funaná ao mesmo tempo se assim o quiser, e fá-lo bem.
O galardão de concerto da noite e do festival foi para Raye que deu um espetáculo perfeito e um dos melhores em festivais nacionais este ano. A artista britânica estreou-se em Portugal com o seu primeiro álbum My 21st Century Blues (2023) para um público que aguardava por este momento há algum tempo.
A primeira parte do concerto foi à volta dos seus temas mais jazz e soul e, igualmente, alguns dos mais emocionantes, começando por The Thrill Is Gone., Worth It. e Oscar Winning Tears. Quando Raye canta sente-se a emoção das suas letras na sua voz como em Mary Jane., uma música sobre adição de substâncias, e Ice Cream Man., onde fala sobre o assédio sexual que sofreu de um produtor e que, infelizmente, é relacionável para várias mulheres na multidão tendo sido o momento mais emocionante do concerto.
O seu novo single de sete minutos, Genesis, foi a transição ideal para mostrar os seus ritmos mais pop e rock. Antes houve uma cover de It's a Man's Man's Man's World de James Brown e depois passou para melodias mais dançáveis, passando por Secrets, uma colaboração com o DJ Regard e Black Mascara, já Prada teve direito a uma versão rock. Também fez uma cover de You Don’t Know Me de Jax Jones. E terminou o concerto com Escapism, o single que lhe mudou a carreira.
Durante mais de uma hora, Raye presenteou o público com um storytelling incrível, tanto nas suas músicas como cada vez que se dirigia aos fãs e contava a história de algumas canções, e parecia que estava na sua sala a falar e a cantar para amigos, o que ajudou a tornar tudo mais especial. Ainda se mostrou surpreendida por haver tantas pessoas a cantarem as letras e pediu desculpas por não ter atuado em Madrid na noite anterior, devido a uma tempestade inesperada que deixou os instrumentos molhados, quando viu um cartaz de fãs que vieram de Espanha de propósito só para a verem. Agora só se pode esperar que Raye volte a Portugal numa sala para ser ainda melhor, se é que isso é possível depois desta perfeição de concerto.
Muitas pessoas aguardavam o regresso de Burna Boy a Portugal depois de concertos no Sumol Summer Fest e Afro Nation e, na multidão, via-se bandeiras de diferentes países dos PALOPs.
No princípio do concerto, tanto o público, tirando as primeiras filas, como o artista pareciam estar mornos e quando Burna Boy pedia à multidão para cantar em alguns temas, mais atrás não se ouvia ninguém a aceder a este pedido. Mais ou menos a meio fico um pouco mais animado, mas mesmo assim não foi o suficiente para se dizer que foi um concerto incrível, ao contrário do anterior e ao que se seguiria. Foi pena um dos nomes mais esperados deste dia não ter trazido tanta animação como se esperava com os seus ritmos de afrobeat, reggae e dancehall. Pelo menos, o artista e vários fãs pareceram felizes durante o concerto.
Yves Tumor regressou a Portugal para apresentar, mais uma vez, o seu mais recente álbum Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds), editado em 2023, e novamente num festival. Um trabalho menos efusivo do que os dois anteriores, mas que funciona melhor ao vivo.
Um concerto de Yves Tumor é sempre uma experiência que passa pelo rock, psicadélico, punk e experimentalismo com a sua atitude de rock’n’roll representada por calças ou botas de cabedal, e aqui não foi exceção. Melhor do que o seu concerto no Primavera Sound Porto do ano passado, mas não tão especial como os seus espetáculos no Primavera de 2019 e na Galeria Zé dos Bois em 2020, que continuam a ser dois dos seus melhores no nosso país, encerrou em grande forma o festival para as pessoas que aguardaram até ao final para assistirem a este momento.
O alinhamento foi composto maioritariamente pelo seu novo álbum, e infelizmente não percorreu nenhuma música de Safe In The Hands of Love (2018) como Noid ou Licking An Orchid, pois das mais antigas apenas se ouviu Jackie e Secrecy Is Incredibly Important to the Both of Them, passando por Gospel for a New Century e Kerosene! do álbum Heaven to a Tortured Mind (2020). Já dos novos temas, God is a Circle, Echolalia, Meteora Blues e Ebony Eye cumpriram com as expectativas do público que pareceu sair feliz do concerto.
O festival regressa ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, nos dias 28, 29 e 30 de agosto de 2025.