MEO Kalorama 2024 - 1º dia: a música pode e deve ser política

 


O MEO Kalorama regressou ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, para a sua terceira edição e pretende continuar até 2027. O alinhamento do primeiro dia contou com duas das melhores artistas nacionais, grandes regressos, liberação e mensagens políticas.

 

 

Ana Lua Caiano abriu o Palco MEO no primeiro dia e apesar de não haver tanto público como merecia, talvez por ser por volta das 18h35 a um dia de semana na capital ou devido às filas para se entrar, teve a tarefa de dar as boas-vindas no palco principal.

 

Com um concerto curto, o seu one woman show meteu o público a dançar com a sua mistura de ritmos tradicionais e modernos das suas músicas. Mais uma vez, provou que merece estar em todos os festivais nacionais e de fora depois de editar o seu álbum de estreia, Vou Ficar Neste Quadrado, e em horários mais tardios, como acontece em alguns festivais noutros países, porque na realidade é música para dançar mais perto da noite ou mesmo de noite.

 

(Infelizmente, não foi possível fazer reportagem fotográfica)

 

 

A seguir, o Palco San Miguel ia ficando cheio de pessoas ansiosas pelo concerto de Gossip, que passaram anteriormente por Portugal no NOS Alive de 2019, e voltaram do seu hiatus. Beth Ditto começou o concerto a dizer que estava destroçada por Fever Ray ter cancelado o seu concerto, que iria ser no mesmo palco algumas horas depois e foi por motivos de saúde, porque só veio por causa desse concerto.

 

O grande destaque deste concerto foi, sem dúvida, a incrível voz de Beth Ditto que encanta tudo e todos. O trio, agora formado por Ditto, Nathan Howdeshell e Hannah Blilie puxou das suas melhores cartadas com os temas Listen Up!, Heavy Cross, Love Long Distance e, ainda, um medley de Standing in The Way of Control com Smells Like Teen Spirit dos Nirvana. Um concerto que mostrou que a banda não pode voltar a fazer uma pausa porque são necessários mais concertos de Gossip.

 

 

Quase ao mesmo tempo, estava Vagabon no Palco Lisboa num registo completamente diferente que passou pela apresentação do seu mais recente álbum, Sorry I Haven’t Called (2023). Após alguns elogios à cidade, a artista revelou que esteve a morar em Lisboa durante dois meses devido a uma residência da Galeria Zé dos Bois, que se espera ouvir em breve.

 

Talvez fosse um dos nomes menos conhecidos neste dia, e apanhou o regresso dos Gossip no seu horário, o que não ajudou a chamar tantas pessoas quanto deveria, mas proporcionou um bom final de tarde com o seu indie pop. Acompanhada pelo saxofonista e teclista Michael Blasky, passou por ritmos mais animados e outros mais calmos e introspetivos. 

 

Vagabon @ MEO Kalorama 2024

 

 

Os Massive Attack regressaram a Portugal depois de dois concertos no Sagres Campo Pequeno, em 2019, e entregaram tudo o que se esperava: música importante, mensagens políticas e ainda trouxeram alguns convidados. A trocarem poucas palavras com o público, deixaram a sua música e as mensagens que passavam nos ecrãs falar por si só e, honestamente, foi o que bastou para levarem a coroa do melhor concerto deste primeiro dia.

 

Logo nas primeiras músicas: In My Mind, Risingson, Girl I Love You com Horace Andy, Black Milk com Elizabeth Fraser dos Cocteau Twins e Take It There, mostraram imagens da guerra na Ucrânia e do genocídio na Palestina e frase “Rise Up Against Fascism”. Mais à frente, dedicaram o tema Safe From Harm, com Deborah Miller, à Palestina onde apareceu a bandeira no início e passaram uma mensagem sobre os milhares de dólares que os Estados Unidos deram a Israel para armamento todos os anos. Além de abordarem um assunto tão importante e apoiarem a Palestina, ainda teceram críticas à relação da tecnologia com as pessoas.

 

Trouxeram mais convidados como Horace Andy nos temas Girl I Love You e Angel; os Young Fathers em Gone, Minipoppa e Voodoo in My Blood; Deborah Miller também em Unfinished Sympathy, e Elizabeth Fraser voltou ao palco para cantar uma versão de Song to the Siren, Teardrop e Group Four. Curiosamente, ainda tocaram Levels de Avicii, não se sabe muito bem o porquê, mas foi uma surpresa.

 

Num espetáculo imersivo, o grupo de Bristol mostrou que a música pode e deve ser política principalmente no momento atual que se está a viver, onde é mais importante do que nunca a arte e os próprios artistas darem atenção e abordarem assuntos e importantes e preocupantes sobre o mundo, e os Massive Attack conseguem fazer isso bem enquanto juntam a sua música igualmente relevante.

 

 

Loyle Carner passou do Palco Lisboa para o San Miguel, devido ao cancelamento de Fever Ray, e neste caso ainda bem porque o Lisboa teria sido demasiado pequeno para a multidão que foi ver o seu concerto, que por acaso contou com os Young Fathers na audiência a verem o seu magnífico concerto.

 

Acompanhado pela sua banda incrível, o artista britânico trouxe a sua boa disposição e os álbuns hugo (2022) e Not Waving, But Drowning (2019) consigo. Revelou que passou a semana a passear por Portugal com a sua família e, mais ou menos a meio do concerto, afirmou que “this is probably one of the most beautiful shows we played this summer” e pode dizer-se que conquisto o público quer quem estava a cantar nas primeiras filas porque conhecia as letras das músicas, quer quem não conhecia a sua discografia.

 

Antes de se ouvir Homerton, dedicou a música ao seu filho, à sua namorada e ao seu fotógrafo português, Diogo. Os temas Angel, Ain’t Nothing Changed, Still e Loose Ends também fizeram parte do alinhamento.

 

Este regresso a Portugal, depois de um concerto no Paredes de Coura no ano passado, veio provar porque é um dos artistas mais interessantes do hip-hop atual e que consegue encantar o público com as suas músicas. 

 

Loyle Carner @ MEO Kalorama 2024

 

 

No Palco Meo, Sam Smith voltou a trazer a sua tour Gloria a Lisboa, após o seu concerto no NOS Alive do ano passado, e não houve grandes diferenças no alinhamento do concerto deste ano, tirando alguns temas, e houve mudanças nos figurinos e coreografias. Um espetáculo pop e gay com tudo pensado e ensaiado na perfeição, trouxe exatamente o que se esperava de Sam Smith: uma bela voz, baladas e ritmos para se dançar.

 

Começou o concerto com as suas origens de soul e R&B nos temas Stay With Me, I’m Not the Only One, Like I Can, e Too Good at Goodbyes. Mais ou menos a meio do concerto foi quando finalmente introduziu temas de Gloria (2023) com Gimme, Lose You e I’m Not Here to Make Friends, passando por Promises e Desire, duas colaborações com Calvin Harris.

 

Claro que Latch, um feat. com os Disclosure, e uma das melhores canções dos seus repertórios, não podia faltar, pois já é quase um clássico de qualquer festival de verão seja cantada por Sam Smith, tocada pelos Disclosure ou ouvida num DJ set de outros artistas, e é um sempre um grande momento ao vivo.

 

Ainda se ouviu um cover de I Feel Love de Donna Summer, enquanto mudava de roupa pela última vez, Gloria e Unholy para terminar em grande, e só faltava fogo de artifício para embelezar mais o espetáculo.

 

 

Por último foi a vez de Filipe Sambado subir ao Palco Lisboa, que veio substituir o concerto cancelado de Fever Ray que era suposto ter acontecido no Palco San Miguel. Infelizmente, o concerto foi um pouco tarde demais e ao mesmo tempo do set de Peggy Gou, que se ouvia neste palco, não juntou tantas pessoas como deveria, mas quem esteve presente é porque realmente apoia música nacional seja a que horas for.

 

Se no caso de Ana Lua Caiano, o seu concerto foi um pouco cedo demais, aqui foi demasiado tarde e, igualmente, ambas merecem estar em todos e mais festivais, o que no caso da Sambado não se percebe a falha que existe por não estar em vários cartazes de festivais pelo país.

 

A artista apresentou o seu mais recente álbum, editado no ano passado, o brilhante Três Anos de Escorpião em Touro. Num concerto onde se passou pelo shoegaze, rock e hyperpop, ouviram-se músicas como Caderninho, Talha Dourada, Choro da Rouca, Vida Salgada e Bastonada nos Dentes, o novo tema anti-polícia. Foi pena este horário, mas a artista e o público presente não deixaram de dar tudo na mesma. 

 

Filipe Sambado @ MEO Kalorama 2024


Texto e fotos: Iris Cabaça

MEO Kalorama 2024 - 1º dia: a música pode e deve ser política MEO Kalorama 2024 - 1º dia: a música pode e deve ser política Reviewed by Watch and Listen on setembro 06, 2024 Rating: 5

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